Nos últimos anos, o debate sobre os impactos do uso excessivo de telas em crianças pequenas ganhou força, especialmente com a crescente dependência de celulares e tablets por crianças pequenas.
Pesquisas e relatos médicos indicam que a exposição prolongada e inadequada a telas, especialmente durante os primeiros anos de vida, pode levar ao desenvolvimento de comportamentos e sintomas que se assemelham aos do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O papel dos primeiros anos de vida no desenvolvimento infantil
Os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento cerebral. Nesse período, o cérebro infantil passa por um intenso processo de maturação, marcado por interações sociais, exploração do ambiente e estímulos sensoriais diretos. Estudos sugerem que crianças expostas a altos níveis de tempo de tela — como celulares, tablets e TVs — podem perder oportunidades importantes de interação humana e engajamento sensorial, fundamentais para o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais e de linguagem.
Comportamentos observados
Médicos e terapeutas têm notado que algumas crianças que passam muitas horas em frente às telas apresentam sinais que podem ser confundidos com autismo, como, a dificuldade de estabelecer contato visual, problemas na comunicação verbal e não verbal.
Piora também em autistas o uso de tela, pois causa aumento na falta de interesse em interações sociais e alimenta comportamentos repetitivos ou hiperfoco em estímulos visuais, como vídeos.
Pesquisadores da Universidade de Yamanashi, em Chuo, Japão, identificaram uma associação significativa entre a exposição ao tempo de tela em crianças de 1 ano de idade e o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) aos 3 anos. Esses achados foram publicados em 2022 no The Journal of the American Medical Association (JAMA), no subperiódico JAMA Pediatrics.
Embora esses sinais possam ser preocupantes, especialistas destacam que, em muitos casos, esses comportamentos não indicam um diagnóstico real de TEA, mas sim uma “transtorno de dependência de telas” decorrente da falta de estímulos adequados.
Autismo x sintomas relacionados ao uso de telas
A neurologia e a psiquiatria afirmam hoje que autismo é uma condição neurológica de base genética e multifatorial, enquanto os sintomas relacionados ao uso excessivo de telas decorrem de questões ambientais. De acordo com especialistas, quando o tempo de tela é reduzido e as interações sociais são incentivadas, muitos desses comportamentos podem desaparecer, diferentemente do TEA, que é uma condição permanente.
Um estudo de agosto de 2023, publicado no JAMA Pediatrics, feito por pesquisadores da Tohoku University, no Japão, revelou que bebês de 1 ano expostos a mais de quatro horas diárias de telas tiveram atrasos na comunicação e na resolução de problemas entre os 2 e 4 anos.
A importância do equilíbrio
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que crianças menores de 2 anos não tenham exposição a telas e que crianças entre 2 e 5 anos limitem o uso a no máximo 1 hora por dia, sempre com supervisão e conteúdo de qualidade. Além disso, é essencial que pais e cuidadores estimulem atividades como brincadeiras, leitura e conversas.
O papel dos pais e cuidadores
Especialistas apontam que a solução para evitar esses impactos está na moderação, que assim como canja de galinha, nunca fez mal a ninguém.
As telas não são vilãs, mas devem ser usadas com moderação e consciência, especialmente nos primeiros anos de vida, apontou em pesquisa o psiquiatra infantil Christopher Ferguson em 2017.
É preciso entender como é enfatizam as entidades de pediatria e neurologia que o uso passivo de telas, como assistir a vídeos sem interação, é particularmente prejudicial, enquanto ferramentas digitais interativas e educativas, com acompanhamento, podem ser benéficas em doses controladas.
Conscientização é essencial
Os profissionais de saúde são pedagogia ressaltam a importância de conscientizar pais e educadores sobre os riscos do uso excessivo de telas e os benefícios de interações reais. O objetivo é prevenir que crianças percam etapas cruciais do desenvolvimento e garantir que, ao serem expostas às telas, isso ocorra de forma saudável e responsável.
E, embora as telas tenham um papel cada vez maior em nossas vidas, é fundamental que sua utilização seja com equilíbrio, respeitando as necessidades de desenvolvimento de cada faixa etária.
A chave está na moderação e no incentivo à convivência e ao aprendizado no mundo real. Crianças sendo crianças e interagindo com outras crianças, assim como foi em toda nossa história da civilização.
Fonte: Portal AZ