Reportagem da Exame trouxe informações de que o mundo do agronegócio tem um novíssimo grande empresário que está fazendo investimentos no Piauí. Em porte mesmo. O catarinense Ricardo Faria, que criou a companhia de grãos Terrus, assinou a compra da Insolo, por R$ 1,8 bilhão. Juntas, as companhias têm 120 mil hectares de área para produção. Ele assumiu a 5ª posição no ranking de maiores áreas de produção do país. Considerando tamanho, fica atrás da líder, SLC Agrícola, que com aquisição da Terra Santa, passa a ter o equivalente a 660 mil hectares e é seguida por Grupo Bom Futuro, Amaggi e Scheffer, nessa ordem.
O pagamento pelo ativo é praticamente todo em dinheiro, uma vez que a companhia adquirida não tem dívida significativa, conforme contou Faria em entrevista exclusiva ao EXAME IN. O nome da empresa combinada será apenas Insolo, que já carrega reconhecimento do mercado. “Vamos aproveitar a marca, que se consolidou ao longo dos últimos 20 anos.” A Terrus começou com fazendas no chamado Matopi, apelido atribuído ao conjunto de estados Maranhão, Tocantins e Piauí. E a Insolo tem unidades concentradas no Piauí.
A Insolo pertencia a um fundo cujos recursos são do endowment da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Junto com a empresa vem toda inteligência desenvolvida em biodefensivos naturais (fungos e bactérias), que são usados no lugar de defensivos agrícolas tradicionais para proteger o plantio. A Fazenda Ipê, em Baixa Grande do Ribeiro, no sul do Piauí, com 35 mil hectares, tem a maior área do país integralmente usuária dessa solução biológica (12 mil hectares).
Decidido a entrar no setor de produção de grãos e preocupado com o preço da terra, Faria focou sua atenção para a região do Matopiba, na divisa entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Para quem vê a tecnologia como aliada, a região, pelas terras planas e mais baratas, tornou-se um dos polos de produção do país a partir de meados dos anos 1980. O Piauí, além de tudo, é considerado um local ideal para a produção de algodão, um dos cultivos que estão no radar de Faria.
E a Insolo era a oportunidade perfeita para os planos do empresário, pois a fazenda vem de um processo de modernização e pesquisa conduzido pela gestão de Harvard. O endowment, fundo patrimonial mantenedor de uma das mais famosas universidades do mundo, tem mais de 40 bilhões de dólares sob gestão e um patrimônio significativo no agronegócio, inclusive no Brasil. As propriedades usavam as mais avançadas tecnologias de cultivo. Quando a universidade decidiu se desfazer de alguns ativos, Faria surgiu como interessado — e ofereceu pagamento à vista.
Faria é um símbolo da renovação que está ocorrendo no setor de agronegócios, que passa por uma revolução fomentada pela explosão das agtechs no país e pelo surgimento de novos empresários. Há quem acredite que elas serão as “fintechs” do futuro, no sentido de atenção, atração de capital e efeito sobre o mercado. Tal mudança traz, ao mesmo tempo, maior produtividade, menos uso de defensivos e fertilizantes químicos e produtos com menor impacto ambiental e mais saudáveis.
O objetivo do empresário é banir os defensivos químicos de 85% da sua produção em três anos. Em cinco anos, por completo. Para isso, vai usar a área de pesquisa dentro da Insolo, que acompanha a aplicação de biodefensivo em diversas lavouras. Além disso, quer ampliar a adoção de fertilizantes orgânicos, no lugar dos químicos conhecidos — e polêmicos — para 40 mil hectares já na próxima safra e seguir crescendo.