Série provoca discussão sobre indução ao suicídio entre profissionais da Saúde Mental

Com apenas 11 dias de estreia na Netflix, a série “13 Reasons Why” (“Os 13 Porquês, em português) vem sendo um dos assuntos mais comentados entre os que acompanham os lançamentos da provedora. A trama, adaptada do best-seller homônimo de Jay Asher, publicado em 2007, fala sobre a personagem Hanna Baker (Katherine Langford), que decide cometer suicídio depois de sofrer abusos como bullying e assédio.

Hannah Baker, personagem de '13 Reasons Why'

A repercussão foi tão grande, que o CVV (Centro de Valorização da Vida), serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio passou a receber o dobro de ligações. O centro teria recebido pelo menos 50 contatos mencionando o programa.

Apesar de ter causado o efeito positivo entre alguns dos espectadores, a forma como a série abordou o tema vem preocupando profissionais da área da Saúde Mental. De acordo com o psicólogo Carlos Henrique de Aragão Neto, alguns especialistas temem que a série 13 Reasons Why possa incentivar jovens em estado de vulnerabilidade psíquica, como adolescentes depressivos e com comportamentos suicidas, a terem uma motivação maior para cometer o ato.

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“É importante nós discutirmos o suicídio voltando-nos para o lado da prevenção, mas a série acaba mostrando que a morte pode ser uma opção e solução para os sofrimentos da personagem. O que mais me preocupa são as cenas finais que mostram o passo a passo de como ela cometeu o ato. Isso pode causar nesses jovens vulneráveis o chamado ‘Efeito Werther’”, disse o psicólogo, que é especialista em Prevenção e Posvenção do Suicídio.

‘Efeito Werther’ é o termo utilizado na Suicidologia oriundo da novela “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, em que a personagem central da estória tira sua própria vida depois de um relacionamento mal resolvido. A partir da divulgação do livro, um grande número de adolescentes e jovens cometeram suicídio empregando o método da personagem do livro, vestindo as mesmas roupas ou ainda deixando um exemplar do livro em seu leito de morte. O caso deixou toda a Europa arrasada a ponto de proibir a circulação do livro.

Psicólogo Carlos Henrique de Aragão Neto
Psicólogo Carlos Henrique de Aragão Neto

De acordo com o psicólogo Carlos Henrique, a opinião dos especialistas que assistiram a série é quase unânime. “A série serviu para trazer esse debate, mas ao mesmo tempo divide opiniões. Muitos dos meus colegas aconselham que os jovens que estejam passando por um sofrimento emocional não assistam a série. É comprovado que nesses casos, o juízo crítico fica comprometido. As pessoas acabam não tendo mais a capacidade de discernimento e fica ainda mais difícil para elas conseguirem enxergar outras soluções para seus problemas”, disse.

Ainda segundo o psicólogo, a partir do momento que alguém passa a ver a morte como opção é preciso buscar ajuda. “Muitas vezes, os pais não dão a atenção necessária para o sofrimento que os filhos vivenciam, por achar que é coisa de adolescente ou que eles só querem ‘chamar atenção’, mas o ideal é que haja o acolhimento e diálogo. Se preciso, os familiares devem buscar imediatamente acompanhamento com um psicólogo e psiquiatra”, explica.

O (Centro de Valorização da Vida) (CVV) atende 24 horas por dia pelo telefone 141, por e-mail, Skype e chat no site do serviço.

‘13 Reasons Why’

Baseada no best-seller de Jay Asher, a série original Netflix “13 Reasons Why” acompanha Clay Jensen (Dylan Minnette) que, ao voltar da escola, encontra uma caixa misteriosa com seu nome na porta de casa. Dentro dela, ele encontra fitas-cassetes gravadas por Hanna Baker, sua colega de classe e paixão secreta, que cometera suicídio duas semanas antes. Nas fitas, Hanna explica as treze razões que a levaram à decisão de acabar com a própria vida.

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