São Raimundo Nonato exporta algodão orgânico para Espanha

Maria de Fátima é agricultora familiar, reside no Assentamento Novo Zabelê, em São Raimundo Nonato ( 522 Km de Teresina) e faz parte da Associação dos Produtores e Produtoras Agroecológicos do Semiárido Piauiense – APASPI, que produz milho, feijão, sorgo, melancia, abóbora, algodão e também hortaliças e frutas. A produção ocorre principalmente nos quintais, para contribuir com a alimentação das famílias.

 (Crédito: Divulgação)
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Mas é o algodão produzido na comunidade que se tornou um dos maiores destaques dos agricultores da localidade. O produto produzido no Piauí é exportado para a Espanha. A produção de algodão orgânico tem um papel especial na cultura local porque os associados fazem um resgate de uma cultura que era dos seus pais e avós, e também pelo valor econômico da pluma.

A produção acontece através de um consórcio agroecológico. Os produtores tiveram um grande incentivo da Embrapa Algodão com acompanhamento técnico e através da rede de produção orgânica criada pelo Projeto Dom Helder Câmara, que deu acesso do produto ao mercado internacional. Os incentivos possibilitaram o contrato de compra e venda com a empresa Organic Cotton Colours, da Espanha, que se comprometeu em comprar toda a produção.

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O restante da produção é vendido no comércio local. A pretensão é vender para todo o país, porque, além dos produtos citados, os associados também vão trabalhar com o mel, beneficiamento de doces e polpas de caju, umbu e maracujá nativo e também galinhas e ovos.

Fátima Sousa, hoje presidente da Associação dos Produtores e Produtoras Agroecológicos do Semiárido Piauiense (APASPI), começou a sonhar em produzir alimentos orgânicos em 2005. E decidiu trabalhar com associação para minimizar os custos da certificação.

“Eu me sinto muito bem exercendo esse trabalho, porque sei que estou contribuindo para um planeta sustentável, no qual a agricultura e meio ambiente caminham juntos, um sistema interagindo com outro”, avalia Fátima.

A decisão de trabalhar com orgânicos veio pela qualidade de vida que os produtos proporcionam e pelo valor econômico agregado a estes produtos. Ela ressalta que a diversificação na produção dificulta a proliferação de pragas e ajuda no melhoramento do solo, já que cada planta tem sua contribuição na fertilidade da terra.

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A agricultora familiar lembra que há muitos anos sua família trabalhou com a produção agroecológica, que consiste na produção livre de veneno e adubo químico. Mas confessa que não tinha o conhecimento que possui hoje sobre o cuidado com o solo, fazendo curva de nível, evitando queimadas, rotação de culturas, barreiras vegetais e outras medidas.

“Na produção orgânica certificada estamos há 3 anos e meio”, conta.

Ela destaca que o maior gargalo de produção é o longo período de seca no Estado, que acaba atrapalhando os agricultores.

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Produção orgânica deve ser constante
Entre os maiores desafios de produzir alimentos orgânicos estão a falta de informação, divulgação e de políticas públicas do estado para estimular e contribuir para fortalecer a produção orgânica.
A continuidade de produção é um ponto importante para mudar a realidade dos orgânicos. Isso porque boa parte dos produtores familiares produzem sem adição de agrotóxicos e adubos químicos apenas no período de chuvas que seguem até o mês de junho.
Os vegetais são os principais produtos orgânicos produzidos no Piauí, assim como legumes e flores.

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O engenheiro agrônomo Kalil Luz disse que a ideia é fazer desenhos sustentáveis de agriculturas no Estado. “Não existe uma receita para a produção em cada região do estado. Cada agricultor vai cultivando de acordo com a sua realidade”, declara o engenheiro, acrescentando que existem várias experiências de produção orgânica em todo Piauí, mas é preciso avançar no aproveitamento dos orgânicos consumidos em Teresina, já que tudo que chega na capital vem de outras cidades.
Para a agricultora familiar Fátima Sousa, a tendência é aumentar a procura pelos alimentos sem agrotóxicos.
“Minha avaliação sobre o mercado dos orgânicos no estado é positiva, pois é um mercado que só tende a crescer, pois a cada dia as pessoas vão tomando mais consciência de que para ter qualidade de vida e ajudar na sustentabilidade do planeta é preciso utilizar a produção orgânica que é produzida levando em conta toda uma questão de respeito com os vários sistemas”, considera.

Associação agrega valor à produção

A Associação dos Produtores e Produtoras Agroecológicos do Semiárido Piauiense (APASPI) é a única do estado do Piauí credenciada no Ministério da Agricultura e cobre todo semiárido piauiense, com dois escopos: animal e vegetal. Ela foi criada em agosto de 2012. Com sede no assentamento Novo Zabelê, município de São Raimundo Nonato, fica situada às margens da PI-140, a 10 Km da cidade.
Atualmente 35 agricultores familiares da APASPI estão certificados. A certificação garante aos agricultores a possibilidade de comercializar seus produtos com uma maior agregação de valor monetário, contudo a qualidade dos produtos, a valorização do trabalho do agricultor familiar e convivência equilibrada com o meio ambiente são as maiores riquezas.

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Os produtores orgânicos da associação receberam um grande incentivo do Projeto Dom Helder e Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato. A meta para 2016 é implantar um projeto financiado pela Fundação Banco do Brasil e Fundação BNDES que vai fortalecer as atividades com a aquisição de um caminhão-baú, uma moto, máquinas para descaroçar algodão, máquina de extrair óleo de algodão e gergelim, computador e dois anos de assistência técnica.
Apesar de não terem custos com certificadora, já que a associação é responsável por esse processo, a produção orgânica possui seus custos, com selos e embalagens.
A presidente da Associação, Fátima Sousa, lembra que o processo de produção do orgânico é mais demorado e possui todo um cuidado, seja com a terra e um olhar diferenciado sobre o produto.
“Você não pode ser um produtor orgânico se não olhar para todo o terreno de plantação. O trabalho orgânico possui toda uma filosofia de trabalho em conjunto colaborativo”, pontua.

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