O Piauí registrou 309 casos de acidentes causados por espécies de lagartas peçonhentas entre 2019 e 2023, é que revela o boletim epidemiológico divulgado recentemente pelo Ministério da Saúde com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
Embora não tenha sido identificada nenhuma morte no estado em decorrência desses acidentes, em todo o país foram contabilizados quase 27 mil casos de acidentes causados por lagartas peçonhentas com um total de 12 mortes provocadas por este tipo de inseto.
Acidentes por lagartas, ou erucismo, é o quadro clínico de envenenamento decorrente do contato com cerdas urticantes de lagartas, locais onde ficam armazenadas a peçonha. A lagarta (taturana, marandová, mandorová, mondrová, ruga, oruga, bicho-peludo) é uma das fases do ciclo biológico de mariposas e borboletas (lepidóptero).
Somente a fase larval de mariposas é capaz de produzir efeitos sobre o organismo; as demais (pupa, ovo e adulto) e larvas de borboletas são inofensivas. A única exceção é a mariposa fêmea adulta do gênero Hylesia, que apresenta cerdas urticantes no abdômen.
Em contato com a pele, essas cerdas podem causar dermatite papulopruriginosa. Os acidentes provocados pelas lagartas, popularmente chamados de “queimaduras”, têm evolução benigna na maioria dos casos.
SINTOMAS
Normalmente, os acidentes com lagartas ocorrem quando o indivíduo toca o animal, geralmente em tronco de árvores ou ao manusear vegetação. O contato com as cerdas pontiagudas faz com que o veneno contido nos “espinhos” seja injetado na pessoa. A dor, na maioria dos casos, é violenta, irradiando-se do local da “queimadura” para outras regiões do corpo. No caso de acidentes por Lonomia, podem ocorrer manifestações tanto locais quanto sistêmicas:
Manifestações locais – dor imediata (queimação), irradiada para o membro, com área de eritema e edema na região do contato. Podem-se evidenciar lesões puntiformes eritematosas nos pontos de inoculação das cerdas e adenomegalia regional dolorosa. Bolhas e necrose cutânea superficial são raras. Os sintomas normalmente regridem em 24 horas, sem maiores complicações.
Manifestações sistêmicas – Instalam-se algumas horas após o acidente, mesmo depois da regressão do quadro local. Presença de queixas inespecíficas (cefaleia, mal-estar, náuseas e dor abdominal), que muitas vezes estão associadas ou antecedem manifestações hemorrágicas (gengivorragia, equimoses espontâneas ou traumáticas, epistaxe). Hematúria, hematêmese e hemoptise podem indicar maior gravidade. Injúria renal aguda e hemorragia intracraniana têm sido associadas a óbitos.
TRATAMENTO
É eminentemente clínico-epidemiológico, não sendo empregado na rotina hospitalar exame laboratorial para confirmação do veneno circulante. O tempo de coagulação (TC) é útil no auxílio ao diagnóstico e no acompanhamento pós-soroterapia.
Dependendo da lagarta, os sintomas podem ser tratados com medidas para alívio da dor, como compressas frias ou geladas. Nos casos de suspeita de acidente com Lonomia, o paciente deve ser levado ao serviço de saúde mais próximo, para que o profissional de saúde avalie a necessidade de administração do soro antilonômico (SALon).