O Piauí dará o primeiro passo para a elaboração de um protocolo de desastre em massa, o mesmo que é seguido pela Polícia Internacional (Interpol). O diretor do Departamento de Polícia Técnico-Científica, o médico legista Antônio Nunes, explica que o plano é de extrema importância para enfrentar situações que fujam da normalidade como acidentes com grande número de vítimas.
“O protocolo é usado em desastres em massa que são aqueles que ultrapassam a capacidade normal de resolução do órgão no dia a dia. Por exemplo, ter três corpos no IML é algo que tem como se resolver, mas se chegam dez corpos de uma vez, a situação muda pois requer um atendimento diferenciado e com mais gente envolvida”, explica Nunes.
Em entrevista, ele explica que poucos estados do país têm um protocolo integrado com vários órgãos, o que será proposto no Piauí.
A elaboração do plano integrado será discutida nesta terça-feira (19), na Academia de Polícia Civil do Piauí (Acadepol), a partir das 9h, com órgãos como a PM, Corpo de Bombeiros, Samu, Polícia Civil, entre outros.
Antônio Nunes ressalta que a experiência da perita criminal da Polícia Civil do Piauí, Maria Rosimere Xavier Amaral, que auxiliou na identificação dos corpos no rompimento da barragem em Brumadinho, em Minas Gerais, será de extrema importância para a elaboração do protocolo no Piauí.
“Quando acontece um desastre, fazemos por intuição, mais ou menos o que deveria ser feito. Sabemos que os bombeiros e o Samu devem ser os primeiros a participar do resgate, mas a gente não tem algo escrito dizendo o papel de cada um. O protocolo integrado servirá justamente para isso, o que vai possibilitar que a gente dê uma resposta mais célere”, disse Nunes acrescentando que a implementação do plano requer investimentos financeiros, sobretudo, para o aparelhamento dos órgãos.
Durante a reunião, a perita Maria Rosimere vai compartilhar a experiência vivenciada em Brumadinho.
“Ela vai apresentar a situação que vivenciou em Minas Gerais e a seguir vamos começar a primeira discussão com todas as organizações para que a gente parta pro nosso protocolo de desastre em massa no Piauí”, finaliza Nunes.
A perita piauiense, Maria Rosimeire, ficou 11 dias em Brumadinho e relata que vivenciou o desespero de familiares em busca de parentes desaparecidos. Ela conta da dificuldade em “lidar com tanta tristeza.
“Meu primeiro contato foi muito difícil. Eu passava o dia no setor interno, mas quando eu chegava ainda via muitos familiares acampados […] no início tudo foi difícil. Assim como você ver um vídeo e começa a sentir aquele pesar, aquela consternação, você trabalhar 24 horas com essa sensação, dificulta um pouco. Mas a gente já tem um trabalho técnico. Não é que a gente vá desativar o nosso sensor emocional, mas a gente trabalha com aquela carga emocional”, disse a perita.
“Tive uma certa dificuldade, no início, de lidar com tanta tristeza. Quando a gente entre no setor que a gente vê fotos, vídeos com familiares, redes sociais, então ali a gente fica bem comovido”, completa Maria Rosimeire.
A tragédia em Brumadinho ocorreu no fim do mês de janeiro e completou mais de 50 dias. Foram constatados, até o momento, 203 mortos e 105 pessoas continuam desaparecidas.
Graciane Sousa
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