Dos 61 casos diagnosticados de doenças neurológicas no Piauí, como encefalite (30), mielite transversa (09), encefalomielite (03), neuromielite óptica (01) e Síndrome de Guillain-Barré (18), 23 casos, ou seja, 38%, indicam infecção recente ou atual pelas arboviroses dengue ou chikungunya. Os dados foram levantados pela Vigilância e Atenção à Saúde, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi).
Com isso, é possível perceber que esses números refletem num sistema de vigilância sensível, e não uma situação alarmante. “O Piauí mantém-se como o estado do Nordeste com a menor incidência de chikungunya e com a menor taxa de letalidade pela doença. Os casos neurológicos aqui divulgados correspondem a menos de 0,4% do total de casos notificados de chikungunya”, explica a gerente de Vigilância à Saúde, Miriane Araújo.
No Piauí, apesar de manter indicadores descrentes dos casos notificados de dengue, quando comparado ao ano de 2015, chamam a atenção os crescentes casos de zika, 316, e especialmente as notificações de chikungunya, com 2214 notificações suspeitas e 948 confirmados laboratorialmente, com um óbito, de acordo com o Boletim Epidemiológico divulgado no último dia 14. Esses dados refletem uma realidade nacional, não tipicamente no Piauí.
“Não se pode afirmar ainda que em todos estes casos as manifestações neurológicas tenham sido causadas estritamente pela arbovirose em si. A relação de causalidade deve ser estabelecida com base em parâmetros normativos adicionais recomendados pelo Ministério da Saúde e pela comunidade científica internacional. Além disso, há possibilidade de positividade em alguns exames de dengue em pacientes infectados, na realidade, por zika. O Ministério da Saúde está monitorando a ocorrência desses agravos em todos os estados da federação”, afirma Miriane.
Protocolo
Com o lançamento, no início de 2016, do “Protocolo de Vigilância de Manifestações Neurológicas Relacionadas à Infecção Viral Prévia”, pelo Ministério da Saúde, foi possível reforçar as evidências científicas de que as arboviroses podem acometer o sistema nervoso dos seres humanos em pequena proporção dos casos, mas com consequências potencialmente perigosas, que podem até mesmo deixar sequelas ou levar ao óbito.
Portanto, é natural que os casos atípicos e complicados sejam percebidos somente após algum tempo, quando acumulam-se muitos casos das viroses. Esta percepção depende também de um sistema de vigilância atento às variações na apresentação clínica das doenças em torno dos padrões clássicos caracterizados por febre, manchas avermelhadas na pele e dor nos músculos e nas articulações.
O protocolo lançado pelo ministério absorveu a maior parte dos procedimentos de vigilância e de investigação epidemiológica já realizados em Teresina desde 2013, reforçados e ampliados para todo o Piauí a partir da detecção de outra arbovirose emergente no mundo, em 2014 – a “Febre pelo vírus do Nilo Ocidental”, em um paciente do interior do estado.
A consolidação dos dados do 1º semestre de 2016, colhidos a partir das recomendações do ministério, mostra um cenário que requer bastante atenção e que reforça a necessidade de combate à proliferação do mosquito transmissor das doenças.