“Monopólio e brigas internas”: entenda disputa entre Kalor Produções e Central Eventos no Piauí

O mercado de entretenimento no Piauí é comandado por duas grandes produtoras: A Kalor Produções, integrante do grupo Meio Norte e gerida pelo jornalista Wrias Moura, e a Central Eventos, cujo empresário Ranieri Pinto é o dono. Fazem a diversão do piauiense. Shows colossais estão no rol das gigantes do entretenimento nas principais cidades do estado. O consumidor dessa mercadoria está atento e exige uma prestação de serviço além da quantidade. Priorizar a qualidade do bom atendimento é fidelizar a clientela, apontam profissionais da área ao OitoMeia.

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Ranieri Pinto está a frente da Central de Eventos e Wrias Moura da Kalor Produções (Foto: Reprodução TV Cidade Verde / TV Meio Norte)

Desde a última terça-feira (06/12), a reportagem apura e tenta entender como anda a relação dessas empresas com grupos menores e até mesmo entre si. Questiona-se, então, se a busca por mais espaço, público, prestígio e melhores atrações provocam certa competição tão comentada atrás dos palcos. De um lado, a Kalor Produções é apontada como a líder no segmento. Por outro, a Central é tida como a representante da tradição. Pontos positivos podem pesar na escolha final do público. Nessa balança, os aspectos negativos também se integram, quando o assunto é a preferência do piauiense.

Aviões do Forró X Weslley Safadão no Piauí: até onde essa disputa é saudável? (Fotos: Divulgação)

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Aviões do Forró X Weslley Safadão no Piauí: até onde essa disputa é saudável? (Fotos: Divulgação)

O OitoMeia foi atrás de fontes que vivenciam esse mercado diariamente. Algumas preferem ficar no anonimato. Afirmam que o setor é bastante restrito e, por isso, temem retaliações. Monopólio, disputas e prestação de serviço foram descritos pelos nossos entrevistados. Coincidência ou não, todos chegaram a um denominador comum: a economia é movimentada sim, porém “não é saudável”. O mercado precisa sair das mãos de poucos e a população precisa de mais opções.

Daniel Paixão acredita que não há guerra declarada, mas sim uma competição saudável (Foto: João Brito Junior/OitoMeia)
Daniel Paixão acredita que não há guerra declarada, mas sim uma competição saudável (Foto: João Brito Junior/OitoMeia)

CARTEL À VISTA?

O jornalista e produtor de eventos Daniel Paixão relata ao OitoMeia que, mesmo não conhecendo intimamente a Kalor Produções ou Central Eventos, observa a relação do cotidiano de entretenimento no Piauí, especialmente em Teresina. Para ele, não há uma guerra declarada entre as duas, porém uma “competição saudável”, benéfica às produtoras e aos consumidores.

“Não existe uma guerra declarada, mas existe uma competição que eu acho mais do que saudável. Acho, inclusive, que deveria ter uma terceira empresa no mercado como forma de opção. Caso contrário acaba ficando uma forma de cartel – o público fica refém das duas empresas. Quanto mais competição tiver, mais o mercado fica saudável. Eu me dou bem com todo mundo, mas a competição deixa ainda melhor”, argumenta Daniel.

DO LADO BOM AO RUIM

Outra fonte da área da produção de eventos, que se mantém no anonimato, faz um panorama das duas empresas. Ela destaca que a Central Eventos está muito desgastada e passa por um momento de crise. Sua tradição é ressaltada no cenário cultural do Piauí, bem como o fato de supostamente deixar de cumprir pontos que são anunciadas em propagandas, mas que não são praticadas nos shows.

“A Central Eventos é uma empresa que está passando por uma crise. Ela tem um potencial incrível, ela tem uma carta de artistas que é incrível, mas o grande público não vive uma lua de mel por conta da crise e por conta de diversos eventos que se prometia uma coisa, mas que não se cumpria. Isso não é segredo para ninguém”, aponta o entrevistado, do setor de organização de eventos na capital.

Fonte anônima diz que Kalor Produções vive "lua de mel" com o público (Foto: Reprodução Facebook)

Fonte anônima diz que Kalor Produções vive “lua de mel” com o público (Foto: Reprodução Facebook)

Sobre a Kalor Produções, o mesmo destaca que há melhor relação da produtora com o público. Segundo ele, a empresa cumpre com as promessas e por isso ganha cada vez mais o gosto do povo. “A Kalor já vive essa lua de mel há algum tempo porque, via de regra, ela promete e cumpre as coisas que são ditas a respeito de um show. Daí o público vai porque sabe que vai ter no evento”, diz.

A Central Eventos, porém, tem em seu catálogo de artistas um dos maiores astros da música brasileira da atualidade. Wesley Safadão, há tempos, vem ao Piauí por intermédio da Central Eventos. O lado negativo é que ele se torna a sua única atração de peso, ainda pondera o organizador de eventos, fazendo com que a empresa se renda às mais possíveis e, às vezes impossíveis, exigências do cantor. Dentre as quais, a vinda da produtora Ieda Pinheiro, a paraense e atualmente moradora de Fortaleza, integrante da organização da Copa do Mundo na capital cearense.

Fonte anônima afirma que Ranieri vive em constante briga com o público (Foto: Reprodução Instagram)

Fonte anônima afirma que Ranieri vive em constante briga com o público (Foto: Reprodução Instagram)

“O único grande artista que a Central de Eventos tem na carta é o [Wesley] Safadão. Ele só vem com algumas condições, das quais a produtora dele, Ieda Pinheiro, deveria vir antes para organizar o show. Ela é uma produtora responsável, dentre outras coisas, pelo réveillon do Marina Park Hotel [realizado na praia de Iracema, em Fortaleza], trabalhou na produção da Copa do Mundo, em Fortaleza. Ou seja, é uma excelente produtora”, ressalta.

Ele ainda cita o nome do dono da Central Eventos, Ranieri Pinto, e o titula de “Rei das brigas com o público”, por não cumprir com promessas. “O Ranieri parece que gosta de viver brigando com o público porque ele é o rei de prometer as coisas e não cumprir. Então é muito difícil do público aguentar, suportar. O Piauí Fest acabou, o Vila Mix, que também era dele, passou para a Kalor. Ele não consegue mais fazer eventos e vai perdendo as oportunidades”, conclui.

O QUE DIZ A RECEITA FEDERAL

O OitoMeia também foi investigar como anda a situação cadastral da Kalor Produções e da Central Eventos na Receita Federal. A empresa sob a direção do jornalista Wrias Moura, pelos dados encontrados, está com a sua situação cadastral “ativa” e regular junto ao Ministério da Fazenda, cuja abertura é datada de 05 de julho de 2007.

Kalor está com a situação cadastral “ativa” e regular junto ao Ministério da Fazenda (Foto: Reproodução Receita Federal)

Kalor está com a situação cadastral “ativa” e regular junto ao Ministério da Fazenda (Foto: Reproodução Receita Federal)

Quanto aos dados referentes à produtora do Ranieri Pinto, como o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), nada foi encontrado no nome fantasia usado pela marca. A reportagem achou um CNPJ no nome de Ranieri Pinto Carneiro, cuja situação cadastral foi “anulada por vícios”, de natureza jurídica “empresário individual” e datada de 25 de março de 2012. O documento ainda mostra que o capital social da Central Eventos é de apenas R$1,00.

Nenhum dado foi encontrado no nome fantasia da Central Eventos (Foto: Reprodução Receita Federal)

Nenhum dado foi encontrado no nome fantasia da Central Eventos (Foto: Reprodução Receita Federal)

Capital social no nome de Ranieri Pinto Carneiro é de somente R$ 1,00 (Foto: Reprodução Receita Federal)

Capital social no nome de Ranieri Pinto Carneiro é de somente R$ 1,00 (Foto: Reprodução Receita Federal)

“POUCA GENTE SABE”

Nas conversas com as fontes, outro entrevistado, que não quer ser identificado, diz que existe sim muita rivalidade entre a Kalor Produções e a Central Eventos, tendo, atualmente, mais visibilidade no Carnaval. A fonte, que sempre presta trabalhos à produtora chefiada por Wrias Moura, confessa que há brigas entre as duas que pouca gente sabe e que esse é o motivo de não se identificar. “A Central Eventos perde espaço para a Kalor. Ela só tem o Wesley Safadão. Ele realmente é o fenômeno da atualidade, mas a Kalor tem um rol de mais de 100 artistas e bandas”, analisa.

Ele também fala que a empresa do grupo Meio Norte é mais bem estruturada e tem um grande marketing, atraindo mais público e parcerias com artistas e outras prestadoras de serviço do ramo de eventos. O entrevistado aponta que grandes eventos e artistas que faziam parte do leque de atrações da Central Eventos migraram para a Kalor Produções, como é o caso da banda Aviões de Forró e o festival Vila Mix.

“Vemos que a Kalor domina bastante esse mercado no Piauí. Ela faz boas festas, mas acredito que se existissem concorrências seria melhor para todo mundo, principalmente ao consumidor. Ela tem o monopólio do mercado e isso, muitas vezes atrapalha na prestação de um serviço de qualidade. Por exemplo, mesmo sendo melhor que a Central, a Kalor deixa a desejar em alguns pontos como o superfaturamento dos ingressos e das bebidas”, diz.

DE QUEM SERÁ O MELHOR CARNAVAL?

O OitoMeia questionou se a Central Eventos, com todos os problemas expostos, tende a sair do mercado piauiense. A mesma fonte esclarece que não acredita numa falência ou desistência da empresa, mesmo com a concorrente “dominando quase 90% dos grandes eventos” do estado. “A Central Eventos pode sim perder mais espaço. Só acredito que vai sair do mercado. Ela tem nome, eventos exclusivos e contatos e amizades. O que falta é a Central Eventos se reinventar, investir, principalmente, em parcerias”, detalha.

Sobre a mais recente realidade competitiva dessas empresas, o entrevistado relata que o Carnaval 2017 é o mais nítido sinal de briga entre a Kalor Produções e a Central Eventos. “O Euphoria [Kalor Produções] vai ser muito melhor que o Crocodilo Beach [Central Eventos], sem dúvidas. Mas a gente percebe que há uma briga porque não há necessidade da Kalor trazer tantas atrações. O Wesley Safadão é muito bom, mas depois do show todo mundo vai ao Euphoria”, finaliza.

No Facebook das duas festas carnavalescas, elogios e críticas chamam a atenção. Durante três dias de Carnaval, a Kalor Produções já confirmou 19 atrações. Dentre elas, as principais são nacionais – Aviões do Forró, O Rappa, Marília Mendonça, Henrique e Juliano, É o Tchan, Alok e outros. Mas não é só de quantidade de artistas que um grande evento é montado. Atender com eficiência é primordial. O consumidor Willam’s Moreira comentou na postagem da produtora que há uma falta de respeito com o consumidor, pois criam desculpas para que o lote promocional dos ingressos vença. “Ficam enrolando para vencer o prazo promocional. Falta de respeito, verdadeira molecagem”, reclama.

Consumidor acusa Kalor Produções de inventar desculpas para prazo promocional vencer (Foto: Reprodução Facebook)

Consumidor acusa Kalor Produções de inventar desculpas para prazo promocional vencer (Foto: Reprodução Facebook)

A Central Eventos confirma para o carnaval do Piauí 13 atrações, tendo como principais destaques o forrozeiro Wesley Safadão, o sertanejo Gustavo Lima, o projeto eletrônico A Liga, o funkeiro Mr. Catra e outros. A briga por críticas também se acirra na empresa do Ranieri Pinto. Internautas reclamam da grande quantidade atrações sertanejas e de forró, na contramão de atrações típicas do carnaval.

Destaques da Central Eventos são Wesley Safadão, Mr. Catra, Gustavo Lime e A Liga (Foto: Reprodução Facebook)

Destaques da Central Eventos são Wesley Safadão, Mr. Catra, Gustavo Lime e A Liga (Foto: Reprodução Facebook)

“Façam um carnaval e não um festival de forró com sertanejo! São apenas quatro dias reservados para esse estilo musical tão bom, tão recheado de músicas boas. Vários artistas que sabem tocar esse ritmo”, avalia Abílio Gois, na página do Facebook do Crocodilo Beach.

Internautas reclamam da grande quantidade atrações sertanejas e de forró no Crocodilo Beach (Foto: Reprodução Facebook)

Internautas reclamam da grande quantidade atrações sertanejas e de forró no Crocodilo Beach (Foto: Reprodução Facebook)

POSICIONAMENTO
Desde a última terça-feira (06/12) a reportagem do OitoMeia tenta contato com a Kalor Produções, através do próprio Wrias, e com a Central Eventos, através de Ranieri, para que se posicionassem sobre o conteúdo desta matéria. Wrias pediu que as perguntas fossem enviadas para o e-mail da assessoria da empresa, o que já foi feito. Por meio de chamadas telefônicas e mensagens pelo WhatsApp, o portal também tentou falar com Ranieri ou um representante da Central Eventos. Mas não obteve sucesso.  O OitoMeia deixa o espaço aberto para possíveis posicionamentos.

NOTA DE ESCLARECIMENTO (Atualizada às 20h)
Na noite desta sexta-feira (09/12), data da publicação desta matéria, a assessoria de imprensa da empresa Piauí Fest Empreendimentos, que é o nome real da empresa de Ranieri Pinto, e não Central de Eventos, encaminhou nota de esclarecimento. Segue na íntegra: “Com relação a matéria publicada hoje no portal, Há quase 20 anos a empresa Piauí Fest Empreendimentos realiza o maior evento de carnaval do Piauí, o Crocodilo Beach. Além do Piauí Fest, que só  não foi realizado esse ano por conta da crise que atingiu todo país, e claro, chegou até o setor de eventos.

A Piauí Fest Empreendimentos, que é registrada corretamente na Receita Federal, se consolidou no Piauí – tanto com o público como honrando seus compromissos, como uma empresa responsável por grandes eventos, e isso só foi possível cumprindo o que se propõe. Somente este ano estão em sua lista de produções realizadas com muito sucesso os shows de projeção nacional de Luan Santana, Humberto Gessinger, o Grande Encontro (com Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Alceu Valença), shows de forró no sítio Tá Bonito, Café de La Musique, Garota White (com Wesley Safadão), além de shows no interior do Piauí e no Maranhão – todos realizados com sucesso tanto no quesito organização como localização. Sempre dispostos a esclarecer dúvidas e com canais abertos para o público e para a imprensa, a Piauí Fest segue com a confiança de eventos bem estruturados e que garantem a segurança do público, que desde o início de nossa fundação tem sido prioridade”.

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