Miss Piauí 2019 sonha em ser delegada da mulher

Miss Piauí 2019 eleita, Dagmara Landim corre contra o tempo para se preparar para o Miss Brasil 2019, que acontece no dia 09 de março, em São Paulo. Como já virou tradição, após a coroação, o OitoMeia abre as portas para receber a mulher mais bonita do Piauí. Parte da vida pessoal e da rotina de miss foi compartilhada nesta reportagem, a exemplo da admiração da jovem estudante de Direito pela Delegada Vilma Alves.

O sonho de Dagmara na carreira policial se justifica pelo interesse em chefiar uma Delegacia da Mulher. Para a miss, isso vai ajudá-la ainda mais em projetos sociais futuros aos quais tem interesse, sobretudo com vistas ao combate à violência doméstica, discriminação de gênero e feminicídio. Além das conquistas pessoais, a estudante também desabafou sobre como superou a morte de um irmão, vítima de um mal súbito em 2018.

A entrevista durou cerca de 30 minutos e a Miss Piauí 2019 e a primeira parte será divulgada nesta reportagem. A entrevistada também disse como se aproximou do mundo miss, num contexto em que nem sabia dos concursos de beleza, até porque nem tinha televisão em casa. É que na região onde mora, povoado localizado no município de Bonfim do Piauí, tendo São Raimundo Nonato como principal cidade, até 2012 não tinha energia elétrica. Um coordenador de misses viu que Dagmara tinha potencial e começou a prepará-la.

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OitoMeia: Quando surgiu o interesse em ser miss?

Dagmara: Eu não trabalhava ainda como modelo. O primeiro concurso de beleza que eu participei foi um concurso de beleza na minha cidade, em Bonfim do Piauí, o “Garota Colegial”. Eu ganhei esse concurso. Depois disso, eu participei de mais dois concursos municipais. Em um, eu fiquei em segundo lugar. No outro, eu nem fui classificada. Nesse meio, eu conheci o Luan [já foi coordenador das misses Monalysa e Naiely]. O Luan que me mostrou esse mundo. Até então, eu não tinha conhecimento. Na minha casa não tinha televisão porque eu não tinha energia elétrica até 2012. Eu não conhecia essas coisas de miss. Eu não sabia o que era.

Eu moro numa comunidade chamada Conceição 1, localizada no município de Bonfim do Piauí, no interior de São Raimundo Nonato. São Raimundo Nonato é uma cidade polo da região. Lá, são pouco mais de 70 casas. A energia elétrica só chegou lá em 2012. Eu tive uma infância raiz, de brincar com os primos, com os amigos na rua. Meu Deus! Quando chovia, era a maior diversão. Eu tive muito contato com a natureza. Eu costumo dizer que eu cresci no mato.

Eu tive uma infância raiz, de brincar com os primos, com os amigos na rua. Meu Deus! Quando chovia, era a maior diversão. Eu tive muito contato com a natureza

OitoMeia: Quando a tua família teve uma TV pela primeira vez?

Dagmara: Meu pai comprou um gerador de energia, mas só fazia funcionar uma televisão pequena, do tamanho de um notebook, que ligava só à noite, para assistir ao jornal e à novela, num momento de descontração. Acho que isso foi em 2010, dois anos antes de chegar a energia para todo mundo. Mas era só televisão. Não tinha geladeira, não tinha notebook, não tinha telefone. Só tinha um telefone com uma antena porque o meu pai precisava se comunicar com as pessoas por causa do trabalho. Era só isso.

OitoMeia: Como iniciou a tua vida em Teresina?

Dagmara: Eu vim morar aqui em Teresina para iniciar o meu curso de Direito. Nesse período que fiquei aqui, durante dois anos, eu fiz trabalhos no Paraíba, desfilei no Teresina House e Moda Trend. Depois disso, eu ganhei a bolsa integral em Santa Catarina e fui para lá, em 2017. Morei lá em 2017 e 2018. Agora, estou morando novamente aqui, não só por conta do concurso. A verdade mesmo é que eu tranquei o curso este ano por questões familiares. Eu decidi que ficaria um tempo lá em casa porque tenho certa necessidade emocional. Independente do resultado do concurso, eu ficaria aqui no Piauí até pelo menos o segundo semestre.

OitoMeia: Após o Miss Piauí, pretende voltar ao curso? Quando surgiu o interesse em ser delegada?

Dagmara: Claro! Não é todo dia que a gente ganha uma bolsa de estudo integral para fazer o curso de Direito. Eu sempre fui muito ligada a áreas sociais. Desde muito pequena, eu me interesso, eu amo História, Sociologia. Na escola, eu ficava encantada com as matérias, desde o primeiro contato. Eu sempre tive vontade de fazer Direito, desde criança. O que pega muito nessa questão é que eu vejo no Direito uma oportunidade para eu me capacitar para fazer uma diferença, socialmente falando. Eu acho que o Direito é muito abrangente. Ele dá essas possibilidades.

Eu admiro muito a delegada Vilma, que é muito conhecida no Piauí e em São Raimundo Nonato. Ela é maravilhosa e é uma referência

Eu já comentei que quero ser delegada, mas isso pode mudar porque é um curso muito amplo. Eu sou uma pessoa hoje e quando eu terminar o meu curso eu posso ser outra pessoa. No momento, eu tenho vontade de ser delegada. Eu quero trabalhar na Delegacia da Mulher. Além de exercer o meu ofício, eu tenho muito interesse em desenvolver o meu projeto social local. Eu quero trabalhar com mulheres, ter esse contato próximo com elas, para fazer mais que o meu ofício. Eu quero fazer algo social mesmo, efetivo. Eu admiro muito a delegada Vilma, que é muito conhecida no Piauí e em São Raimundo Nonato. Ela é maravilhosa e é uma referência.

OitoMeia: Você tem alguma história de superação?

Dagmara: É uma pergunta muito profunda. Eu já comentei, várias vezes, o fato de ter participado e chegado ao Miss Piauí já é uma superação enorme para mim. Justamente, no ano da minha preparação, foi o ano que o meu irmão de 18 anos, gêmeo com outro, faleceu. Foi justamente no ano que eu decidi participar do concurso. Claro que o meu primeiro pensamento era desistir de tudo, mas eu procurei usar o concurso em vez de desistir de participar dele. Ele faleceu em fevereiro do ano passado [2018] de mal súbito. Mas aproveitei que tinha esse sonho e usei isso para me levantar e fazer com que eu caminhasse em direção a dias melhores. Eu estava muito realizada em estar participando, em ter chegado ao primeiro dia do confinamento, vivendo intensamente.

A morte do meu irmão foi uma fase muito difícil mesmo, pois eu estava morando em Santa Catarina e eu sabia o quanto estava sendo difícil para os meus pais

Muitas vezes, durante a preparação, eu cheguei a duvidar que eu conseguisse chegar. Acho que a família é a peça mais preciosa de todo mundo. Eu sempre fui muito apegada a minha família, embora eu tenha saído de casa muito cedo para morar em outros lugares. Isso é o que mais mexe comigo. Se estiver tudo bem com a minha família, está tudo bem comigo. Nada me atinge! A morte do meu irmão foi uma fase muito difícil mesmo, pois eu estava morando em Santa Catarina e eu sabia o quanto estava sendo difícil para os meus pais. Foi muito difícil eu me concentrar na minha faculdade, no meu trabalho, no Miss Piauí. É um trabalho psicológico.

OitoMeia: Você já foi vítima de bullying antes do reconhecimento enquanto modelo e miss?

Dagmara: Claro! Acho que todo mundo já passou por isso, infelizmente. Eu já vivi um período em que eu não era considerada bonita porque eu era alta, seca [muito magra]. Eu recebia até comentários desagradáveis. Com o tempo, eu amadureci, eu entendi que essa questão de beleza é relativa. Cada pessoa tem uma opinião. Não é porque o meu perfil não se encaixa em um determinado padrão e não agrada todo mundo que a minha beleza pode ser questionada. Ao longo da minha vida, eu aprendi a entender que o meu perfil não vai agradar a todos. Eu tenho que estar bem comigo mesmo e trabalhar esse amor próprio porque o que as pessoas acham não é a verdade. A verdade é o que está dentro de mim.

Eu já vivi um período em que eu não era considerada bonita porque eu era alta, seca [muito magra].

O MISS PIAUÍ
O Miss Piauí é organizado pela Band Piauí, desde 2017. Naquele ano, Monalysa Alcântara foi eleita Miss Brasil 2017 e Top 10 no Miss Universo. O concurso já é considerado um dos principais do país e a nova era trouxa inovações para as candidatas, não cobrando por inscrições, e abrindo as portas para o público assistir à coroação. Diego Trajano, diretor-geral da emissora, afirmou que o estado tende a superar as expectativas a cada ano.

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