Até o momento, 99% das escolas do Piauí estão funcionando em ritmo de aulas remotas, seja pela internet ou pela distribuição de material impresso. Ao todo, a rede dispõe de 658 escolas e 170 anexos rurais em todo o território estadual. Isso leva em consideração o documento que estabelece diretrizes educacionais no período de pandemia do novo coronavírus, editados pela Secretaria Estadual de Educação no início do mês de abril.
As aulas foram retomadas no dia 13 de abril, e a carga horária correspondente aos dias letivos, alvo de suspensão de atividades presenciais, está sendo realizada por meio de atividades não presenciais, utilizando estratégias de ensino e acompanhamento da aprendizagem de forma online, para os estudantes que têm acesso à tecnologia, além de impressão e distribuição de material para os que não têm.
As escolas tiveram total autonomia para planejar como implementar essas novas estratégias de acordo com suas especificidades. Todas elaboraram um Plano de Ação Específico, que está sendo executado com vídeo aulas, tira dúvidas, exercícios, chats de discussão, lives entre professores e alunos, via whatsapp, e-mail, para que o estudante possa acompanhar seus estudos.
Para Ellen Gera, secretário estadual de educação, é importante a destacar que as aulas em todo o Brasil, de forma presencial, estão suspensas. “Começamos a discutir, então, usar outras alternativas pedagógicas para o cumprimento do período letivo. O Conselho Estadual de Educação, emitiu uma resolução, a 61, de 2020, que autoriza um regime especial de aulas não presenciais para o Piauí. É um marco importante editada no final do mês de março, e logo que emitimos nós já permitimos as estratégias não presenciais dos dias letivos. 99% das escolas retornaram com segurança”, avalia.
No dia 6 de abril, a Seduc emitiu um documento pedagógico com orientações, dando diretrizes implementar o regime. “É muito importante esse entendimento que estamos em um regime especial de aulas não presenciais, e que não necessariamente é um uso de educação a distância mediado por tecnologia. Não é só isso. Estamos usando também estratégias diversas para acessar os estudantes, de modo que isso possa acontecer de forma remota, mesmo sem acesso à internet”, acrescenta Gera.
Piauí saiu na frente em educação remota
O Piauí foi um dos primeiros a implementar o sistema de educação remota. “Minas Gerais, por exemplo, começou essa semana. Assim que saiu o primeiro decreto do governador que criava restrições de aglomerações, ele determinou que as férias de julho da rede estadual seriam antecipadas. Mas em abril decidimos tomar uma atitude. Embora o chão da escola seja o melhor espaço, a educação pode acontecer de outras formas”, aponta Ellen Gera.
Os alunos vivem momentos de tensão e precisam de suporte. “Não queremos apenas chegar no cognitivo, mas também no socioemocional. Há um sentimento e angústia, ansiedade e dúvidas sobre o futuro. Retomamos com o propósito de não regredir no processo de aprendizagem. Utilizamos o Canal Educação, mídias sociais, TV Antares, YouTube, apps, enfim, estratégias diversas. No entanto, há estudantes que não têm acesso à tecnologia. Então distribuímos livros e material pedagógico. Aí cabe ao professor criar um roteiro de estudo e a produção de material. Estamos rodando um censo para identificar o que os estudantes têm acesso. É um cenário difícil que não havia como prevermos. Decidimos não parar”, reconhece o secretário estadual de Educação.
Canal Educação passa por transformações
As plataformas disponibilizadas pela Seduc são elogiadas em todos os âmbitos. O Canal Educação, por exemplo, funciona em dispositivos Android e disponibiliza os vídeos das aulas. No entanto, embora haja empenho das autoridades e professores em disponibilizarem um bom conteúdo, muitos estudantes não têm pacote de internet suficiente para dar conta de tudo que é disponibilizado.
É o que explica Sérgio Kennedy, professor de biologia da Unidade Escolar Lourival Parente. “A plataforma do aplicativo é muito prática. Foi feita uma atualização que todas as postagens e materiais são direcionadas para o aluno, que têm acesso automático a toda informação. Link de aulas, aulas do canal de educação, material de apoio, complementar, atividades. Os alunos fazem até atividades online através do Google Forms. Então já conseguimos dar a nota em tempo real. Nesse período descobrimos essas novas ferramentos, além de continuar o contato com os alunos. É uma adaptação à nova realidade. As dúvidas a gente tira via WhatsApp. No entanto, muitos dos alunos não têm internet, o que dificulta bastante. Temos turmas que tem 20 alunos que não conseguem acompanhar as aulas por causa disso. Ainda há uma grande carência nesse sentido”, aponta.
Investimento em mediação tecnológica
No documento, que foi lançado no início de abril, a Seduc indica os recursos para que as aulas possam funcionar no formato remoto. Uma das ferramentas é o programa de mediação tecnológica, Canal Educação. Por meio dessa plataforma, a Seduc disponibiliza os links das aulas com material de todas as disciplinas e modalidades de ensino.
O Programa de Educação com Mediação Tecnológica é um sistema que mescla transmissão de aulas via satélite e interatividade em tempo real entre professores (no estúdio) e alunos (nas salas de aulas espalhadas por todo Piauí) com um profissional de ensino permitindo uma mediação interativa que vêm revolucionando a educação no estado.
Esta é uma realidade já conhecida pela diretora Tetê Silva, do Centro Estadual de Tempo Integral Didácio Silva, em Teresina. A escola utiliza o Canal Educação para aulas e revisões do Pré-Enem. “A gente produz videoaulas e assim trabalhamos questões do Enem, além de lives. O Seduc Aluno tem conteúdos anexos como vídeos e material trabalhados nas aulas. Muitos alunos não têm acesso à internet. Infelizmente não conseguimos atingir 100%. Então mandamos material impresso, que é entregue na escola. A internet deve ser um complemento, mas não como um único meio, porque nada substitui o contato entre professor e aluno. Esperamos que seja uma coisa passageira. Estamos aprendendo muito, muitos professores não tinham habilidade com essas novas tecnologias e percebemos uma grande evolução”, considera.
iSeduc Aluno e iSeduc Professor
O iSeduc aluno foi lançado no dia 4 de maio e busca facilitar a comunicação entre o aluno e o professor. Pelo app, os estudantes podem acessar aulas, apoios e atividades. A luna Joseane Magalhães, de 15 anos, faz o 1º ano na Unidade Escolar Lourival Parente e conta que permanece aprendendo. “É uma experiência nova, mas sinto muita saudade da escola. Mas é melhor ficar aprendendo. Estou criando uma rotina, igual eu indo para a escola, só que com aulas em casa. Estou acostumada a essa nova vida que temos que aderir por conta da pandemia. Vai muito do querer de cada aluna. Para mim o aprendizado não diminui. Eu busco outras coisas, não só as aulas online. Olho o Google, o YouTube. Então estou aprendendo do mesmo jeito. Ainda não sei o que farei no vestibular, mas penso em psicologia”, aponta.
Já o iSeduc professor possibilita registrar diariamente todas as aulas, avaliações e lançar as notas. Lançado em 2019, o aplicativo também funciona offline, permitindo que as informações não sejam perdidas por falta de internet. Essa é uma ferramenta é uma espécie de diário online, desenvolvida para auxiliar e complementar o que já era feito com o Portal do Professor, o Acadêmico Seduc. O grande diferencial do aplicativo é a possibilidade de fazer tudo sem a necessidade de estar na frente de um computador e estar conectado no momento de alimentar o sistema.
Estudantes sem acesso à internet também continuam aprendendo
Para os estudantes que não tem acesso a internet, as escolas foram orientadas a trabalhar com o livro didático e produzir, imprimir e distribuir atividades para que ninguém fique para trás. Teve escola que entregou material de barco, como foi o caso do Centro Estadual de Tempo Integral (Ceti) Fenelon Castelo Branco, em União.
Em Teresina, a carência de internet também é uma realidade. Maria José Viana, diretora do Centro Estadual de Tempo Integral prof Antônio Tarcísio, revela a baixa cobertura de internet da região do Vale Quem Tem, zona Leste da capital. “O nossa alunado é bastante carente. É ainda mais complicado. Internet é acessível a todos, mas nem todos têm condições de pagar. Os alunos que têm internet de maior potência, mandamos online. Mas estamos trabalhando com 80% das aulas remotas, com atividades impressas. Estamos entregando com toda a produção possível, de acordo com a OMS. A gente marca um dia para ele vir a escola e lá nós entregamos, sem aglomeração e com medidas de profilaxia”, revela.
Todas as disciplinas estão sendo abrangidas pelo material impresso. “Eles estudam em casa e dão a devolutiva a cada 15 dias. É muito complicada a situação de alunos carentes. Estamos em situação atípica. Tem alunos que tem um celular em casa para dividir com cinco irmãos. Estamos sendo sensatos em entender o lado dos alunos. O material impresso não é suficiente, claro. Mas é o que estamos conseguindo fazer. Agora eu digo, nem impresso e nem virtual supre as necessidades da sala de aula. É preciso contato direto. Mas com o que estamos vivendo, é o jeito seguir o que a Seduc manda”, acrescenta.