Médico diz que taxa de ocupação é preocupante e alerta sobre colapso

A crescente taxa de ocupação dos leitos de UTIs no Piauí e a possibilidade de um colapso no sistema de saúde, deixa em alerta as autoridades médicas no estado. Em Teresina, onde a taxa de ocupação já é de 65%, a situação já é classificada como preocupante. O pronto-socorro do Hospital São Marcos, por exemplo, chegou a ser fechado temporariamente nesta quinta-feira (21). O médico cardiologista Marcelo Martins, que faz parte da administração da unidade de saúde, disse que só o isolamento social evita o colapso.

“O isolamento social faz com haja uma certa folga do sistema de saúde e por isso passa a ser questionado. O que aconteceu nas últimas semanas é que as taxas de isolamento em Teresina e no Piauí começaram a cair, consequentemente as taxas de ocupação começaram a subir. Ontem, quando a notícia circulou que o hospital São Marcos tinha fechado temporariamente o seu pronto-socorro, eu recebi mais de 50 ligações. As pessoas apavoradas. As pessoas têm que entender que a gente não precisa que o caos se instale para que uma verdade seja concretizada como verdade, vamos dizer assim. É muito cômodo transferir essa responsabilidade para gestores”, disse o médico, que continuou o desabafo.

“Nós enquanto sociedade temos que entender que respeitar o isolamento é a única maneira que o colapso na rede hospitalar não se instale. Não é com polícia na rua, com repressão, que a gente vai fazer isso acontecer. É um entendimento de cada um de nós. Não dá para achar que vamos manter a vida beirando a normalidade e, ao mesmo tempo, ficar assustado quando os hospitais fecharem suas portas por superlotação”, acrescenta.

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Para o médico, as taxas de ocupação dos leitos são consideradas preocupantes. “É uma taxa muito preocupante. As vezes as pessoas pensam assim: 75% significa que 1/4 dos leitos ainda está desocupado. Só que a gente tem que transformar essa conta em números absolutos. Teresina tem um déficit de leitos de terapia intensiva muito grande. É um problema histórico de várias cidades do Brasil. Então 24% de leitos livres, vamos dizer assim, é um número absoluto de leitos muito pequeno. Preocupa sim. Somos uma cidade com mais de 850 mil habitantes e, mais importante do que isso, somos um estado de 3 milhões de habitantes. Nós sabemos quem em situações mais graves os pacientes acabam vindo para Teresina ou transferidos pela falta de estrutura adequada”, explica.

De acordo com Martins, a média de um paciente internado na UTI é de 19 dias, o que dificulta a rotatividade de leitos.

“É uma média 19 dias na UTI e o leito hospitalar mais 8 dias. Uma internação que vai tranquilamente chegar a um mês. O giro de leitos é muito lento. Isso dificulta muito a assistência a um número maior de pessoas. A principal indicação de UTI para paciente com covid- 19 é a insuficiência respiratória. Como os recursos são muito limitados, os pacientes que vão para as UTIs objetivamente hoje em dia são os que estão com uma dificuldade respiratória muito grande. São pacientes que preenchem determinados requisitos, que incluem a oxigenação do sangue, exames específicos”, afirma.

O médico diz que diariamente as taxas de ocupação são monitoradas, além delas, também a procura por atendimento de pacientes com síndrome gripal. “A gente faz acompanhamento em tempo real não apenas das taxas de ocupação de UTI, mas também da procura por atendimento por síndrome gripal. Vem tendo uma procura aumentada por síndrome gripal. A gente espera que em alguns dias a gente tenha uma ocupação maior. A gente vem numa curva ascendente de procura síndromes gripais e de ocupação dos leitos hospitalares”, declarou.

Sobre o pronto-socorro do Hospital São Marcos, o médico informou que o atendimento já foi normalizado. “Ontem às 16h30 a diretoria, para preservar a segurança dos pacientes que estavam sendo atendidos, e entendendo a sobrecarga de trabalho, decidiu fechar a unidade de atendimento por incapacidade de atender mais pessoas. Fizemos uma força-tarefa no hospital e por volta das 23h30 conseguimos reabrir o pronto-socorro. A gente não quer de jeito nenhum deixar as pessoas sem serem atendidas. Todos os hospitais estão fazendo isso”, finalizou.

Hérlon Moraes

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