“Mais de 30% das lojas não conseguirão abrir as portas devido à crise da pandemia”

Em entrevista a O DIA, o presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Estado do Piauí (Sindilojas), Tertulino Ribeiro Passos, disse que o comércio vinha se recuperando da crise desde 2019 inclusive com os postos de trabalho sendo recuperados. Em dezembro do ano passado, por exemplo, teve saldo positivo de contratação bem maior do que as demissões. Havia uma previsão de crescimento acima da inflação. Entretanto, com início da pandemia em março e a decretação do isolamento social e fechamento das atividades comerciais – compreensivas naquele momento para evitar a proliferação do novo coronavírus -, mas chegamos hoje aos mais de 90 dias sem perspectivas de reabertura e isso vai levar o fechamento de 30% das lojas e das 70% que conseguirem reabrir suas portas, 10% não passarão do primeiro mês e fecharão também suas portas. Ele crítica que até nas cidades vizinhas como São Luís (MA) e Fortaleza (CE) e, no Norte do páis, capitais como Belém (PA) e Manaus (AM), que tiveram situações mais difíceis devido ao Covid-19, não mantiveram o comércio fechado tanto tempo como em Teresina.

Antes da pandemia do Covid-19, como o Sindilojas estava avaliando as vendas do comércio?

– Antes da pandemia do novo coronavírus estávamos na realidade com vendas, com a possibilidade de crescimento durante o ano de 2020. Existia inclusive a possibilidade de crescimento de todas as empresas durante esse ano, de suas atividades comerciais. Havia uma previsão de crescimento acima da inflação por todo esse período do ano. Pois, as pesquisas davam esse indicativo de crescimento das atividades comerciais em nosso país e, no Piauí, não seria diferente assim como, também, em Teresina.

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A economia dava sinal de crescimento e quais eram as perspectivas?

– Sim. A economia dava sinal de crescimento. Ela tinha um aquecimento já bastante significativo. Isso já vinha ocorrendo no final do ano de 2019 quando conseguimos ter uma superação das vendas em relação a 2018. Então, já estava crescendo. Em janeiro foi maior, em fevereiro também foi maior do que os anos anteriores, do ano passado, por exemplo, fazendo comparação entre 2020 e 2019.

O emprego já era percebido com essa melhora na economia, no comércio varejista e atacadista?

– Com relação aos empregos, o desemprego já estava diminuindo. Inclusive, no ano passado, fechou com saldo bem menor do que o número de desempregados que tinha fechado em 2018. Então, as vagas de trabalho vinham crescendo, subindo. Em dezembro, por exemplo,tivemos um saldo positivo de contratação bem maior do que as demissões. No segundo semestre de 2019, o nível de empregos estava crescendo. Portanto, o número de desempregados vinha diminuindo antes da pandemia do Covid-19. E isso indicava um sinal positivo de aquecimento das atividades econômicas.

Com a pandemia, com fechamento do comércio no segundo semestre de março em decorrência dos decretos municipal e estadual, como o comércio reagiu? Quantas lojas fechadas e quantos empregos perdidos?

– Com o fechamento das atividades comerciais, a partir do dia 19 de março, todo o restante do mês de março o comércio ficou completamento fechado. Ninguém fez nada, todo mundo parado, exatamente pensando no que ia fazer e como iria fazer. Inclusive até as atividades essenciais as quais são consideradas essenciais pelo próprio Decreto também estavam fechadas. Já no início de abril foi que começou a se ter uma movimentação, e que essa movimentação foi exatamente em relação as pessoas na procura de alternativas para poder ter vendas. Como, por exemplo, forma de entrega, de como fazer entrega, de como vender. Então, procurar qualquer tipo de alternativas para que não ficasse totalmente sem resultados. Algumas empresas conseguiram enquanto outras não tiveram o mesmo sucesso, não encontraram alternativas de como sobreviver esse período de pandemia.

O comércio aderiu às medidas provisória do governo federal que reduziu salário, jornada de trabalho e suspensão de contrato de trabalho para manutenção dos empregos?

– Quanto as medidas, todo o comércio aderiu. Primeiro foi a Medida Provisória 927 com relação as férias. Com isso, os lojistas deram férias para os seus empregados, exatamente não obedecendo aqueles prazos, como por exemplo, de fazer o comunicado de 30 dias antes. Então, foi dado férias coletivas e, quem tinha férias de cinco dias pra frente, todo mundo deu férias. Depois que saiu a Medida Provisória 936, todo lojista aderiu, adotando redução de jornada de trabalho e salário, bem como suspensão de contrato de trabalho de acordo com cada atividade. Então, todas as atividades comerciais aderiram a essas Medidas Provisórias até no intuito de se ter como sobreviver e a intenção era de ficar pouco tempo fechado.

Essas Medidas ajudaram a classe empresarial do comércio a aliviar o caixa?

– Então, essa Medida Provisória 936 deu um fôlego de caixa. Isso porque o empresário estava com os empregados assegurados pela medida. A venda que a loja tinha ia canalizar para outro tipo de atividade. Então, a parte de salário ficou por parte do Governo Federal exatamente por conta dos benefícios. Claro, que não foi todo mundo mas boa parte dela. E também em relação as férias, a Medida Provisória 927 deu um fôlego de caixa porque as férias normalmente tem que se pagar com antecedência de dois dias. E, no caso das férias quando iniciou a pandemia, a empresa pagava até o quinto dia útil do mês subsequente. Então, de qualquer maneira a empresa teve um fôlego pra que você pudesse tá aí gerando, sobrevivendo. Por isso, temos ainda a sobrevivência das atividades.

Qual o percentual de fechamento de lojas?

– Quanto a isso, temos uma estimativa inclusive de lojistas que nos procuraram. 30% das lojas não conseguem abrir as portas, não vão conseguir levantar as portas. Pois, das 100% das lojas fechadas, 30% delas não conseguirão abrir as portas quando retornarem as atividades normais. E, dos 70%, em média 10% delas não passam do primeiro mês. Então, voltam a fechar novamente. Isso devido a crise que chegou de forma bastante significativa, assolando todas as atividades comerciais de nosso Estado.

Quais as principais dificuldades?

– Sobre as principais dificuldades que temos são exatamente a parte de fornecedores. Temos algumas mercadorias, por exemplo, quando nós entramos no mês de fevereiro foi feito o planejamento para as vendas do Dia das Mães. Então, todas as empresas fizeram seu planejamento para as vendas no Dia das Mães e fizeram pedidos porque esse planejamento é feito em fevereiro e essas mercadorias chegaram nos meses de março e abril. E ai, muitas delas conseguimos fazer o cancelamento dessas vendas ou fazer mesmo a devolução. Mas aí muitas delas não tiveram a devolução. Então, quem não teve devolução nem venda, o que aconteceu, não conseguimos pagar, gerando protestos. Mas a dificuldade maior é porque essas mercadorias geram uma alíquota de tributo, uma antecipação parcial de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). E o Governo do Estado não fez prorrogação desses tributos apesar de termos solicitado essa prorrogação. A Prefeitura de Teresina, também, não prorrogou o ISS. Então, as dificuldades são essas, sem falar dos fornecedores em atraso que o empresário teve protesto e a parte de tributos que a empresa não consegue pagar. A venda pequena que você tem é canalizada para pagar o fornecedor e tentar receber e pagar também os salários de seus empregados. Esse é o principal objetivo: pegou a mercadoria e vendeu, para depois pagar os empregados, o fornecedor. E isso atrapalha muito, inclusive, a dificuldade de crédito. E esses créditos que estão por vir todos eles precisam que os empresários estejam com suas certidões negativas e não ter protestos. E isso, infelizmente, todo lojistas está enfrentando essa dificuldade. Todas essas coisas somam essas dificuldades que temos hoje.


“Esse é o principal objetivo: pegou a mercadoria e vendeu, para depois pagar os empregados, o fornecedor”.


O comércio deve abrir nos próximos dias, com restrições, isso ajudará amenizar a situação de crise?

– Então, esperamos que as atividades comerciais sejam abertas o mais rápido possível. Já passou do que deveria fazer e já estamos mais de 90 dias fechado. A maioria das cidades passou 60 dias e o máximo, em média, foram 45 dias fechado. Em todas as capitais, com exceção de Teresina, o comércio está aberto, inclusive capitais que tiveram situações bem difíceis, muito pior do que a nossa (Teresina), a exemplo das cidades vizinhas como São Luís (MA) e Fortaleza (CE) as quais tiveram problemas bem maiores do que aqui. Em Belém, capital do Pará, no Norte do País, por exemplo, o comércio passou apenas 15 dias fechado. Em Manaus, no Amazonas, as lojas só ficaram 30 dias fechadas. E, nós aqui em Teresina estamos com 90 dias e ainda não tem sinalização por parte das autoridades tanto dos governos do Estado como do Municipal, de quando vão reabrir, flexibilizar. E quando se vai para o interior onde algumas prefeituras reabriram o comércio o Ministério Público está entrando com representação judicial e estão sendo fechadas as atividades comerciais. Portanto, temos todos esses empecilhos e tudo canaliza contra a atividade comercial, seja da parte do Poder Público, do Executivo, como da parte do judiciário.

Qual avaliação o Senhor faz dessa situação? O que o Senhor acha desses decretos de restrições e fechamento do comércio?

– Sobre os decretos, na realidade, entendemos que precisaria ter esse fechamento do comércio. Muito antes de saírem esses decretos, nos reunimos no Sindlojas e optamos para fazer apenas um turno de trabalho para diminuir e evitar aglomeração. Isso ainda em março. Só que, na semana seguinte, já teve o fechamento totalmente das atividades. Naquele momento era interessante. Porém, agora, por exemplo, não tem mais sentido esses decretos de isolamento do jeito e da modalidade como se encontra. Tem que ter o isolamento, sim, mas não dessa forma de modalidade de isolamento como está. Precisamos ter o isolamento daquelas pessoas que realmente precisam ser isoladas, as que têm comorbidade ou, então, aquelas de mais de 65 anos de idade. Essas pessoas, sim, precisam ficar em casa. Mas, as outras não, esses precisam trabalhar, todo mundo precisa exerce suas atividades de trabalho. Então, essas restrições do jeito como estão são prejudiciais. Pois não sabemos ainda quais são os efeitos econômicos e o que vai acontecer. Após a abertura das atividades comerciais é que vamos realmente ter a certeza de todo o estrago econômico ocorrido por conta desse fechamento prolongado em decorrência da pandemia do Covid-19. Nesse momento o ideal era que tivéssemos a maioria das atividades abertas, funcionando, e não fechadas. Isso porque já passou do período de estarmos fechados, principalmente por conta dos índices de contaminação que estão diminuindo e, também, da curva que está caindo apesar de se ter ainda muita gente internada. Entretanto, olhando o número de contaminados de acordo com os números publicados pelas autoridades públicas de saúde mostra que vem diminuindo essas contaminações. E, por conta disso, já deveríamos estar com nossas atividades comerciais abertas e em pleno funcionamento em nossa Capital.

Presidente, o Sindilojas tem em vista alguma promoção para incentivo às compras no comércio como forma de recuperar esse tempo perdido?

– A previsão é que não tenha nenhum promoção nesse momento. Esse é um compromisso nosso, assumido pelos lojistas com o Poder Público para que não tenha aglomerações. Pois, toda vez que realizamos promoções atrai muita gente e as aglomerações são inevitáveis. Então, um dos objetivos para que não tenha aglomerações e é um dos compromissos do Sindilojas com o Poder Público, é não estimular promoções para que não tenha esse fluxo muito grande de pessoas dentro das lojas. Pode até ter promoções, mas bem mais adiante, na frente, num período bem posterior. Enfim, quando o comércio reabrir suas portas não haverá promoções de vendas.

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