Por que proteger e cuidar do Parque Nacional da Serra da Capivara?

Em 1979, o Governo Federal criou o Parque Nacional da Serra da Capivara com uma área de 100 mil hectares, no interior do Piauí. Posteriormente, em 1990, essa área foi ampliada com a criação de Áreas de Preservação Permanentes adjacentes. Em 1991, a UNESCO-Organização das Nações Unidas pela Educação, Ciência e Cultura declarou o Parque Nacional da Serra da Capivara, Patrimônio Cultural da Humanidade. Todo esse esforço, reconhecimento e iniciativas de proteção para a área do Parque foram consequências do trabalho da arqueóloga NiédeGuidon e sua equipe, iniciados no começo da década de 1970.

 

Mas o que há no Parque Nacional da Serra da Capivara que é merecedor de reconhecimento da UNESCO e necessita de proteção permanente? _ Vestígios e rastros da memória e da história da humanidade. Até o presente momento, a Serra da Capivara possui a maior área de concentração de sítios pré-históricos conhecidos no continente americano e talvez contenha a maior quantidade de pinturas rupestres de todo o mundo.

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Basicamente, a Serra da Capivara localizada no interior do nosso estado, possui um dos maiores capitais culturais do mundo. Um tesouro comparável aos grandes monumentos da antiguidade, distribuídos em mais demil sítios arqueológicos já cadastrados  e em  milhares de pinturas rupestres conhecidas, sem contar o que há para se descobrir.

 

O Parque Nacional da Serra da Capivara hoje mantido pelo ICMBIO-Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, mantém cerca de 170 sítios arqueológicos abertos à visitação. Segundo informações do ICMBIO,“ além dos sítios arqueológicos com pinturas rupestres, o Parque resguarda também sítios históricos, onde se pode observar casas de antigos maniçobeiros que habitaram o lugar e que viviam da coleta da maniçoba até meados do século XX”. Por outro lado, fauna e flora peculiares da região, assim como a paisagem geológica que apresenta formações areníticas de rara beleza,também merecem atenção e cuidados.

 

Contudo, essa semana o Parque Nacional da Serra da Capivara voltou à mídia com uma pauta recorrente: a falta de recursos para sua manutenção, quiçá para novos empreendimentos.

 

Como faz há muito tempo, a arqueóloga NiédeGuidon criadora da FUMDHAM-Fundação Museu do Homem Americano, vem alertar a população e pedir ajudapara que o Parque possa continuar funcionando. Na verdade pedir que o governofaça sua parte e repasse os recursos necessários para que haja uma manutenção mínima.

 

Em seu relato ao repórter Simplício Júnior da TV Clube,NiédeGuidon informa que parte dos funcionários foi demitida em 2015 e que não há recursos para pagar os direitos trabalhistas desses empregados. Informa ainda que por falta de pessoal e manutenção, a maior parte das guaritas de acesso ao Parque foi fechada, mesmo assim, os empregados continuam sobrecarregadospois necessitam percorrer todos os dias grandes extensões de terra para fiscalizar trilhas e guaritas.

 

A arqueóloga reclama e se ressente da falta de incentivo ao turismo na região, o que poderia promover a sustentabilidade do Parque.

 

É certo que essa situação de quase abandono, não é, nem de longe, privilégio do Parque Nacional da Serra da Capivara, haja vista outros parques aqui mesmo no Piauí que possuem situação similar ou mais precária, contudo, muitas perguntas pairam no ar e são concernentes ao fato de que apesar da luta incessante mantida pela FUMDHAMhá tantos anos, ainda não se consiga manter a Serra da Capivara funcionando em nível de qualidade satisfatória

 

Em meu ponto de vista, o Parque aqui tratado é um EcoMuseu e diferentemente de muitos que se existem por aí, possui um patrimônio de valor incomensurável, não apenas para o Piauí ou Brasil, mas para o mundo. Portanto, deveria ser tratado como tal e o Ministério do Meio Ambiente conjuntamente com o Ministério da Cultura deveriam criar uma política de investimento comum e específica para a Serra da Capivara, dado ser uma área federal de tanto valor cultural para a humanidade.

 

Recorrentemente tenho falado nesta coluna, sobre países e cidades que por não possuírem um capital cultural, histórico ou ambiental, terminam criando instituições museológicas, parques de diversão, etc., que se transformam em atrativos turísticos e que com o passar dos anos, adquirem o status de capital cultural. Em outro momento cheguei a dissertar sobre a iniciativa da China nos últimos anos de entrar para valer no mercado de turismo cultural com o intuito de atrair tanto ou mais turistas que a Europa; para tanto, criou uma política de museus e durante o ano de 2014 inaugurou oureinaugurou um museu por dia. É bem verdade que a China é um campo fértil de história; mas os nossos sítios arqueológicos espalhados por todo o Piauí, também o são.  Então o que justifica,termos tamanho capitale não sabermos como preservá-lo de forma responsável? O que justifica não implantarmos uma política de exploração/manejo coerentes e de modo a melhorar a vida dos habitantes de seu entorno? O que justifica não conhecermos e não valorizarmos o nosso patrimônio?

 

Conheci a Serra da Capivara aos 17 anos quando entrei para o Curso de Letras da UFPI. Anos depois retornei à Serra já como Gerente de Marketing e Comunicação da Caixa, função em que tive a oportunidade de gerenciar o patrocínio de várias iniciativas da FUMDHAM no Parque Nacional da Serra da Capivara. No primeiro governo de Wellington Dias acompanhei as primeiras audiências para a viabilização do aeroporto internacional de São Raimundo Nonato.Desde que sai da Caixa há alguns anos, tenho acompanhado pela imprensa os problemas pelos quais passa o Parque Nacional da Serra da Capivara, e, diante de tanta luta diária mantida pela arqueóloga e sua equipe e pelo ICMBIO, só um sentimentome invade: a tristeza de ver  o quão difícil é sensibilizar os nossos governantes para o investimento em cultura e meio-ambiente.

 

Por fim, deixo aqui mais um apelo aos nossos representantes federais e estaduais para que olhem para a Serra da Capivara.

 

Para maiores informações sobre o Parque Nacional da Serra da Capivara, tais como: saber como chegar, que atrações existem, como visitar etc., vá ao site do ICMBIO.

 

Ana Regina Rêgo

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