Filme piauiense contará a história da arqueóloga Niède Guidon

O Parque Nacional Serra da Capivara, mais uma vez, será cenário de produção cinematográfica. O longa documental “Niède Guidon: Memórias da Vida” contará a trajetória da arqueóloga que se dedica há mais de 40 anos a preservar os registros dos primeiros homens das Américas. As produtoras do filme, Bárbara Nepomuceno e Fafá Guimarães apresentaram o projeto, nesta quinta-feira (17), à vice-governadora Margarete Coelho.

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Na fase de captação de recursos junto à iniciativa pública e privada, Bárbara Nepomuceno revela que a produção já foi aprovada pela lei do audiovisual junto à Agência Nacional do Cinema (Ancine).

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“Estamos no processo de captação de recursos, conversando com empresários e com o governo. Estamos tendo boas perspectivas da iniciativa privada e das estatais, por exemplo, Banco do Nordeste e Caixa Econômica Federal. Temos o interesse da UNESCO e do Banco Mundial em conhecer o projeto. No entanto, viemos até à vice-governadora para articular junto ao governo e a iniciativa privada, verificando quais os empresários os quais podemos entrar em contato para apresentarmos o projeto”.

Bárbara revela ainda que o projeto pretende contar a história do Parque que se conecta com a história de vida de Niède Guidon. “Pretendemos contar essas histórias, toda a construção daquele espaço, destacar a importância daquele patrimônio para o Piauí e para o mundo. É um projeto importantíssimo para ajudar na divulgação e mostrar ao mundo o valor da região”.

Animada com o projeto, Margarete Coelho se disponibilizou em articular o diálogo entre as produtoras e às iniciativas pública e privada referente à captação de recursos. “Vamos analisar as possibilidades, conversar e listar as empresas que possam fazer parte dessa iniciativa. A Secretaria de Cultura já está envolvida, levarei o projeto ao governador Wellington Dias e me prontifiquei em trabalhar para que esse filme saia do papel. O mundo precisa conhecer a história da Niède e o potencial histórico, cultural e turístico da região”, pontuou.

A produção estadual, com co-produção paulista, terá 90 minutos de duração e começará a ser gravado em 2017, após a fase de pesquisa ser concluída. De acordo com Fafá Guimarães, a película pretende envolver toda a comunidade da região levando-os a contarem e se tornarem protagonistas da própria história.

”Como é um longa documental vamos trabalhar com a comunidade, utilizando os próprios moradores da região; os que são próximos da Niède, pesquisadores, a equipe que ela formou, mostrando o trabalho que vem sendo feito. É uma obra onde os atores serão da própria comunidade, da região, que vivem próximo ao parque e vivem do parque”, destacou.

 

Biografia

Formada em História Natural pela USP, trabalhou no Museu Paulista, quando tomou conhecimento do sítio arqueológico de Coronel José Dias, (há cerca de 525 km de distância de Teresina) no Piauí, no ano de 1963. Durante uma exposição no Museu Paulista onde expunha pinturas rupestres de Minas Gerais, recebeu a visita de um morador de São Raimundo Nonato, que lhe informou existir pinturas semelhantes em sua cidade, porém conseguiu visitar o Piauí somente em 1973, após cerca de 8 anos fora do Brasil, lecionando na École des Hautes Études en Sciences Sociales em Paris.

Doutorou-se em arqueologia pré-histórica pela Sorbonne e especialização pela Université de Paris I.

Desde 1973 integra a Missão Arqueológica Franco-Brasileira, concentrando no Piauí seus trabalhos, que culminaram na criação, ali, do Parque Nacional Serra da Capivara, que dirigiu enquanto também atuou como Diretora Presidente da Fundação Museu do Homem Americano[2], após a fundação sofrer problemas de financiamento.

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Teoria

Os achados arqueológicos de Guidon levam a crer que o povoamento do continente americano se deu muito antes do que se acredita de ordinário. Enquanto a teoria mais comumente aceita do povoamento das Américas postula que os primeiros humanos chegaram no continente há 15.000 anos, alguns dos sítios arqueológicos de Guidon contém artefatos que datam de até 58.000 anos atrás. O problema de sua hipótese é que o que Guidon e sua equipe têm por “artefatos” outros têm por “geofatos” – os primeiros sendo produtos do trabalho humano e os últimos da ação de forças naturais. Antropólogos estadunidenses – entre os quais estão os mais ferrenhos críticos das teorias de Guidon – se encontram em ambos os lados da questão: alguns aceitam as evidências arqueológicas sem contestá-las; outros pensam que elas não são sólidas o suficiente para derrubar as antigas hipotéses. Enquanto isso, os achados se acumulam. Em 2006 divulgaram-se os resultados das pesquisas de Eric Boeda, da Université de Paris, e Emílio Fogaça, da Universidade Católica de Goiás, afirmando que os artefatos achados por Niéde em 1978 no Boqueirão da Pedra Furada, em São Raimundo Nonato, foram realmente feitas por seres humanos, e possuem idade entre 33 mil e 58 mil anos, contrariando os adversários de sua teoria.[6] Quando da descoberta dos vestígios encontrados por Niéde, a teoria Clóvis First dominava a ciência da arqueologia, impossibilitando uma interpretação diferente sobre a ocupação humana da América.[6]

Com uma grande equipe trabalhando para si e com inúmeros projetos em andamento, Guidon espera reescrever a versão corrente da história demográfica do homem. Embora sua teoria tenha lacunas, o acúmulo de evidências arqueológicas fortalece cada vez mais suas hipóteses. O seu trabalho resultou em mais de 1,3 mil descobertas de sítios arqueológicos e centenas de fósseis na região da caatinga.

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