Com leis avançadas, mas proteção ineficaz, violência contra a mulher cresce no estado e revela um sistema que falha antes da tragédia acontecer
Os índices de violência contra a mulher no Piauí seguem em alta e acendem um alerta sobre a eficácia do sistema de proteção. Entre 2022 e 2025, o estado registrou 182 casos de feminicídio, de acordo com dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública. Somente em 2024, foram 56 mortes, número 32% maior do que o registrado no ano anterior. Em 2025, os dados parciais já apontam 18 casos confirmados, indicando a continuidade do problema.
Os números revelam um padrão preocupante: apenas cerca de 10% das mulheres vítimas de feminicídio tinham medida protetiva de urgência concedida pela Justiça no momento do crime. Além disso, mais de 85% não chegaram a registrar boletim de ocorrência antes de serem assassinadas. Especialistas avaliam que os dados refletem o medo de denunciar, a falta de informação e a dificuldade de acesso à rede de apoio.
Apesar de o Brasil possuir uma legislação considerada avançada na defesa dos direitos das mulheres, como a Lei Maria da Penha e a tipificação do feminicídio, a aplicação dessas normas ainda encontra obstáculos na prática.
Para o advogado eleitoral Wallyson Soares, a distância entre a lei e a realidade das vítimas ajuda a explicar o crescimento dos casos mais graves: “Os números mostram que o problema é falha na proteção. A legislação existe, mas não chega a tempo para muitas mulheres. Falta integração entre polícia, Justiça e rede de apoio, além de fiscalização efetiva das medidas protetivas já concedidas”, afirma.
Segundo o advogado, muitas vítimas permanecem em situação de risco porque não confiam que o sistema irá protegê-las após a denúncia: “Sem acolhimento e resposta rápida do Estado, a mulher acaba desistindo de buscar ajuda e permanece no ciclo de violência”, completa.
Dados do serviço Ligue 180 indicam que o Piauí registrou 10.771 atendimentos em 2024, número superior ao ano anterior. O crescimento das denúncias demonstra maior conscientização por parte da população, mas também evidencia que a violência doméstica continua presente no cotidiano de milhares de mulheres no estado.
Prevenção é chave para evitar feminicídios
O especialista defende que o enfrentamento ao feminicídio passa por ações preventivas, como o fortalecimento da rede de proteção, o acompanhamento de casos reincidentes e a atuação integrada entre órgãos de segurança, Judiciário e assistência social.
Segundo Wallyson, o foco precisa estar na proteção antes que a violência chegue ao extremo: “O feminicídio não acontece de forma isolada. Ele é o último estágio de uma sequência de falhas. Evitar essas mortes depende de uma atuação firme e coordenada do poder público”, conclui.









