Por volta das 18h30 do dia 30 de abril, o piauiense e estudante de Psicologia Anderson Veloso foi sequestrado, brutalmente torturado e violentado sexualmente. Natural da cidade de Picos, sudeste do Piauí, o graduando foi alvo de homofobia na cidade onde reside atualmente, em Petrolina, no Vale do São Francisco pernambucano, a 713 km de Recife.
Em tom de desabafo, no início da tarde desta segunda-feira (02/05), Anderson fez uma publicação em seu perfil no Facebook a respeito do caso. De acordo com a vítima, no último sábado (30/04), ele foi capturado por três homens e jogado dentro de um carro modelo sedan preto e levado para um lugar desconhecido, onde levou muitos socos e, ainda debilitado, foi enforcado com o cordão do próprio short.
No meio da ação dos agressores, o picoense salienta, em nota, que também sofreu muitas agressões verbais, do tipo: “Vou te matar viado” e “Vai embora de Petrolina, viadinho”.
FORTES”
Ainda na publicação, Anderson ressalta que o que aconteceu com ele não vai ficar em vão e que ele não será silenciado. Ele destaca que a classe LGBT é forte. “Nós somos fortes e nós vamos conseguir, mesmo que queiram nos destruir”.
‘MALDITO SORTUDO’
O futuro psicólogo também chama a atenção para os números alarmantes de casos violentos contra os homossexuais do país. “E quantos são aqueles que foram destruídos pela simplicidade de existir, tantos são aqueles que ainda serão atingidos e se machucarão pior do que eu”, relata, confessando que embora tenha saído vivo, tal sorte será maldita, pois carregará dentro de si agonia pior que os traumas físicos.
ESTATÍSTICAS
De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), a vítima pode denunciar os casos de agressão através do Disque 100. Ainda com o Governo Federal, só em 2014 foram registradas 1.013 denúncias de violação dos direitos humanos na comunidade LGBT em todo o país. Houve queda em 2015 e somente 356 casos foram levados ao órgão.
Em poucas horas, a publicação já obteve aproximadamente 200 curtidas e quase 90 compartilhamentos.
ABAIXO, CONFIRA A PUBLICAÇÃO NA ÍNTEGRA:
PODEM DENUNCIAR!
O dia 30 de abril de 2016 tinha tudo pra terminar de uma forma positiva, mas não foi isso que aconteceu. Mais uma vez, a violência e o ódio permearam as ruas da cidade de Petrolina, fato que tem acontecido bastante, levando em consideração as grandes tragédias que aconteceram aqui nos últimos tempos. Entretanto, dessa vez foi algo diferente. A vítima de todo esse obscuro e frio momento me fez parar pra refletir sobre diversas questões que antes não chegavam até a pele, até o verdadeiro sentir. Dessa vez, a vítima da agressão foi eu.
Tantas e tantas vezes já havia ouvido falar que a homofobia matava, mas mesmo assim, isso não me chegava aos olhos, visto que nunca havia passado por uma situação como essa. Hoje, só hoje, eu posso verdadeiramente enxergar que o preconceito é capaz de nos levar a lugares nunca vistos antes, e com o coração despedaçado, infelizmente, terei de confessar aqui que ontem à noite, por volta das 18:30 da noite, eu fui capturado por três pessoas em um carro sedan preto; fui levado a um lugar desconhecido e chegando lá me espancaram com socos, me derrubaram no chão e continuaram a me bater, mesmo já debilitado, após isso me enforcaram com o cordão do meu short. Como se não bastasse tudo isso que aconteceu, ainda violaram sexualmente de mim.
Os gritos de “vou te matar viado”, “vai embora de Petrolina, viadinho” e tantos outros ainda ecoam dentro de mim e eu sei que eles permanecerão ainda por muito tempo. Todavia, mesmo diante disso tudo, eu não me silenciarei. A minha dor não será apenas mais uma dor. O meu choro não será um choro em vão. Olhar e ver o desespero daqueles que verdadeiramente me amam, rasga meu coração. Olhar em um espelho qualquer e ver o desespero no meu próprio olhar, me consome. Só que essa luta não é só minha. Em nome de todos aqueles que já apanharam ou morreram por conta da homofobia, eu digo: não foi em vão. Nós somos fortes e nós vamos conseguir, mesmo que queiram nos destruir. E quantos são aqueles que foram destruídos pela simplicidade de existir, tantos são aqueles que ainda serão atingidos e se machucarão pior do que eu. Eu sou um sortudo, um maldito sortudo que carregará dentro de si uma dor que agora faz parte de mim
, mas eu ainda estou aqui.
Apesar de achar que nunca mais iria ver meus pais, meus amigos ou aqueles que verdadeiramente eu amo, eu ainda estou aqui. E EU SEI QUE NÃO É EM VÃO. Agora, não mais uma dor me consome, além disso, uma danada vontade de lutar e gritar está louca pra sair, assim como as lágrimas que escorrem pelos meus olhos. Doeu? Sim. Vai doer mais? Sim. Mas isso não me calará. Essa dor que eu estou sentindo não é só minha, é a dor das milhares de famílias e amigos que perderam os seus por não serem esses malditos sortudos, assim como eu. É por eles, pelos que não voltaram. Pelos meus familiares. Pelos meus amigos. E acima de tudo, pela minha liberdade que ninguém toma, por aqueles que ainda irão levar muito na cara, por todos aqueles que perderam suas vidas. Um lado da minha face apanhou, mas EU AINDA TENHO O OUTRO LADO.