A delação do ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, deu mais detalhes de como a propina da construtora era repassada a senadores do PMDB. Em troca do dinheiro, a empresa seria beneficiada em renovações de contratos e propostas de legislação que interessassem à Odebrecht.
No depoimento dado a investigadores da operação Lava Jato, o ex-diretor afirma que o senador Romero Jucá (RR), que recebeu o codinome “caju”, era o principal interlocutor da empresa no Senado. O senador tinha o papel de receber e distribuir o dinheiro para o grupo do PMDB na casa.
O grupo era composto pelos também senadores Renan Calheiros (AL) e Eunício Oliveira, conhecidos como “justiça” e “índio”. Ainda de acordo com Cláudio Melo Filho, este era o “núcleo dominante”, que atuavam diretamente para aprovar projetos e medidas provisórias que beneficiassem a Odebrecht.
Cláudio Melo Filho listou pelo menos 11 medidas provisórias (MPs) e três projetos de lei defendidos pelo núcleo do PMDB no Senado. No depoimento, ele considera que os três senadores citados atuaram para que as medidas e projetos fossem votados de acordo com os interesses da Odebrecht.
Os textos se referem, entre outras coisas, a redução de impostos para construtoras, incentivos e desonerações para a indústria petroquímica e estrutura do sistema brasileiro de defesa da concorrência.
Em troca, os políticos recebiam pagamentos em doações, legais ou de caixa dois. “As insinuações não deixavam dúvidas de que no momento certo eu seria demandado pelo parlamentar. (…) Salvo alguns casos essas demandas sempre ocorriam em períodos eleitorais”, disse Melo Filho, na delação.
O ex-diretor da Odebrecht também afirmou que, ao longo dos anos, os pagamentos a Jucá somam cerca de R$ 22 milhões. “Como tive conhecimento, esses valores eram centralizados no senador Romero Jucá e posteriormente redistribuídos dentro de seu grupo no PMDB”, afirmou.
O senador Romero Jucá, líder do governo no Congresso, negou que recebesse recursos para o PMDB e disse que está à disposição da Justiça.
Cláudio Melo Filho ainda detalhou um encontro entre ele o Renan Calheiros na residência oficial do Senado, em 2014. Na ocasião, Renan disse a Melo Filho que o filho seria candidato ao governo de Alagoas.
“Acredito que o pedido de pagamento de campanha a seu filho ao governo do estado de Alagoas, justamente no momento em que se apresentavam os aspectos técnicos relevantes, era uma contrapartida para o forte apoio dado à renovação dos contratos de energia, inclusive publicamente, e que culminou na edição da MP 677/15. Entendi, na oportunidade, que esses pagamentos, caso não fossem realizados, poderiam vir a prejudicar a empresa de alguma forma”, disse.
Após a reunião, a empresa fez uma doação de R$ 320 mil para a campanha. Além disso, no mesmo período, teriam sido doados R$ 1,2 milhão para que a construtora tivesse uma obra no sertão alagoano.
Renan Calheiros disse que “jamais autorizou ou consentiu que terceiros falassem em seu nome em qualquer circunstância”. O senador afirmou ainda que “não há chance de serem encontradas irregularidades em suas contas pessoais ou eleitorais”. E que “essas contas já são investigadas há nove anos sem que nenhuma prova seja encontrada contra ele”.
Na delação, o ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht afirmou ter repassado o valor aproximado de R$ 2,1 milhões ao senador Eunício Oliveira. Ele conta que um preposto do senador foi ao seu escritório pegar uma senha e saber o local onde os pagamentos seriam realizados.
O valor teria sido dividido em duas parcelas. A primeira paga em Brasília, e a outra em São Paulo. Os pagamentos foram realizados entre outubro de 2013 e janeiro de 2014.
O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, disse “que todos os recursos arrecadados em suas campanhas foram recebidos de acordo com a lei e aprovados pela Justiça Eleitoral”. Ele ainda disse que “nunca autorizou ninguém a negociar recursos em seu nome em troca de favorecimento à qualquer empresa”.
Fonte: G1