A pouco mais de um ano das eleições de 2026, o Brasil volta a enfrentar um cenário de desequilíbrio macroeconômico. O país revive simultaneamente a deterioração das contas públicas e externas — um quadro conhecido como “déficits gêmeos”, que remete ao período anterior à crise fiscal e ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
De acordo com especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, a situação atual apresenta paralelos preocupantes com a conjuntura de 2014, marcada por forte expansão de gastos públicos e desequilíbrio nas contas externas.
Contas públicas em deterioração
No campo fiscal, o governo enfrenta uma escalada de despesas com juros da dívida pública, que se aproximaram de R$ 1 trilhão nos 12 meses encerrados em julho. Com a taxa Selic em 15%, o custo da rolagem da dívida se tornou explosivo, resultando em um déficit nominal de 7,12% do PIB no governo central — número que sobe para 8,5% do PIB quando considerados estados e municípios. Desse total, cerca de 8 pontos percentuais correspondem apenas aos juros.
A dívida pública bruta também cresceu de forma acelerada, atingindo 77,5% do PIB em julho, um aumento de seis pontos percentuais desde o início do atual governo. Para analistas, poucos países elevaram seu endividamento tão rapidamente em tão curto período.
A ausência de superávits primários recorrentes impede que o país reduza parte de seu passivo, ampliando o risco de um desequilíbrio estrutural duradouro.
Déficit externo em alta
No setor externo, a situação também inspira preocupação. O déficit em conta corrente passou de 1,4% para 3,5% do PIB em um ano, impulsionado por uma balança comercial abaixo do esperado e pelo aumento das saídas líquidas de serviços, lucros e dividendos.
Com a economia interna aquecida artificialmente, o consumo e as importações cresceram em ritmo superior ao das exportações, agravando o rombo nas transações correntes.
Especialistas alertam para riscos
Economistas avaliam que o Brasil está repetindo erros do passado, com expansão fiscal sem contrapartida de crescimento sustentável. Caso a tendência se mantenha, o país poderá enfrentar maior pressão inflacionária, juros altos persistentes e uma perda de confiança nos mercados — fatores que podem afetar o desempenho econômico às vésperas da disputa eleitoral de 2026.
“A combinação de déficits fiscais e externos é explosiva para economias emergentes. Quando a confiança cai, o financiamento fica mais caro e a recessão volta ao horizonte”, alerta um analista ouvido pelo jornal.