Bilionários precisam existir — e o Brasil prova o porquê

A iniciativa privada não substitui o poder público, mas expõe sua falência e conquista a confiança de quem foi esquecido por décadas no país.

O Brasil é o país onde a lógica se inverte todos os dias. Enquanto o governo multiplica ministérios, discursos e impostos, quem realmente cria oportunidades concretas para jovens da periferia são os aplicativos de entrega — Uber, iFood e tantos outros. São essas plataformas, e não as políticas públicas de Brasília, que tiram cidadãos da margem e os colocam na roda econômica.

Isso não significa um elogio cego à iniciativa privada. É apenas um retrato cru do abandono institucional. Hoje, mais de um milhão de brasileiros trabalham com entregas. A maioria é composta por jovens, negros e moradores de regiões vulneráveis, que encontram na atividade uma saída real da criminalidade e do desemprego crônico. Quando o Estado desaparece, o mercado ocupa o espaço — simples assim.

O mesmo fenômeno se repete na educação. O YouTube se transformou no maior centro de ensino informal do país, gratuito, acessível e imediato. Enquanto isso, as escolas públicas seguem sucateadas, programas federais são interrompidos a cada troca de governo e o Ministério da Educação virou palanque político. O povo entendeu a mensagem: responde com cliques, não mais com promessas.

Esse cenário produz um efeito colateral incômodo para o poder. A confiança popular nos bilionários cresce, enquanto a dos políticos evapora. Não porque a população idolatre fortunas, mas porque enxerga nelas a capacidade de resolver — ao menos em parte — problemas concretos. Enquanto Brasília discute narrativas, empresários entregam soluções.

Os que deveriam servir tornaram-se intocáveis; os que deveriam ser fiscalizados viraram modelos de eficiência. O Estado brasileiro, inchado e ineficaz, esqueceu sua missão original: promover dignidade, não discurso; garantir acesso, não apenas arrecadação.

Talvez não precisássemos de bilionários para resolver o que o Estado abandonou. Mas, por enquanto, são eles — e não os governantes — que seguem fazendo o país se mover.

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