Agricultora dribla as dificuldades da seca em São Raimundo Nonato como sanfoneira

O dia de trabalho indo embora e os dedos rasgando a sanfona. É assim que termina mais uma jornada da sertaneja, agricultora em São Raimundo Nonato, sudeste do Piauí, Maria Sebastiana Torres da Silva. Mas do que adianta tanto empenho musical quando a seca não dá trégua há pelo menos seis anos? “O sangue da terra é a chuva. Não tem chuva, não tem. Não tem o que? Colheita.”

Sem colheita, as festas diminuem e o dinheiro não gira para pagar os shows. “Durante o tempo que eu vivo com essa sanfona, é o momento mais difícil que estou passando na vida. Os shows estão sumindo”, conta a agricultora.

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Se ganhar a vida com a música não está fácil, o jeito é juntar a família e acelerar o passo a caminho da roça. Juntar o trabalho de agricultora com o de sanfoneira foi o jeito que Sebastiana encontrou para sobreviver à dureza do sertão. Foi também a maneira de sustentar uma família de nove filhos. Dois deles, aliás, já se foram: um aos cinco anos, que morreu de meningite, e outro aos sete meses, que não aguentou a desidratação. Mas nem a seca e nem a dor de mãe foram capazes de tirar dessa mulher o dom da música.

E de onde vem toda a insistência do sertanejo? Ela conta para o Globo Rural: “Meu pai não dava fuga. Desde os sete anos que eu comecei a trabalhar. Era um bocado de filhos, cada um com uma enxadinha na mão. Minha primeira caneta foi a enxada e meu caderno o chão”. A história com a música também começou cedo, quando o pai vendeu um garrote de oito arrobas para presenteá-la com sua primeira sanfona.

“Quando estava com 11 anos de idade, toquei numa festa. Sentada, a sanfona, só ficava o queixo de fora. Consegui tocar numa festa de casamento e meu sonho virou realidade”. Para ela a agricultura e a música se misturam. “Artista é bom, agricultor é bom, mas só a música não dá, só a roça não dá. Junta os dois para conseguir viver.”

Ela aprendeu a tocar sozinha, insistindo, ouvindo rádio. E a sanfona virou uma companheira. “Virou uma namorada de fé. Tem hora que eu jogo o meu marido no chão da cama e deixou a sanfona comigo”, brinca Sebastiana.

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