A saga de Niéde Guidon em defesa das mulheres

Manter os postos de trabalho das guariteiras se tornou uma meta de vida para pesquisadora.

Muitos leitores podem se perguntar: afinal, por que Niéde Guidon, mesmo na reta final de sua jornada, decide enfrentar políticos, governantes e autoridades em defesa do Parque Nacional Serra da Capivara? A resposta é simples e complexa ao mesmo tempo. Ao gerar emprego no sertão para as mulheres numa sociedade tipicamente machista, Niéde quebrou paradigmas, causou uma verdadeira revolução econômica, social e cultural. Por trás disso está a garantia da integridade de uma área declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.

Quando a discussão sobre gênero ainda engatinhava em nossa sociedade, Guidon já pensavam adiante, queria uma sociedade igualitária entre homens e mulheres. Para isso, começou, cada vez mais, a incorporar mulheres nas atividades da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), em defesa do parque, na sua administração e conservação.

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Ao garantir autonomia para mulheres que sempre foram submissas, subservientes e dependentes dos homens, ela deu uma nova opção de vida, melhorou a autoestima e criou novos parâmetros para a igualdade entre sexos. Tudo começou num dia quando ela passou por uma das guaritas da Serra da Capivara e avisou a um vigilante que ele não poderia deixar roupas penduradas no varal na guarita de acesso a turistas e que precisaria limpar seu local de trabalho. A resposta dele foi clara: Dra. Niéde, isso é trabalho para mulher!

Foi o pontapé inicial para ela deixar os homens com a fiscalização do parque e contratar mulheres para atendimento aos turistas nas guaritas. Começava ali uma inversão de valores no semiárido piauiense. Com um salário digno e a possibilidade de crescer na vida, as mulheres se sentiram valorizadas, respeitadas e empoderadas.

Desde então, toda essa “briga”, essa “luta”, esse “desespero” em busca de recursos para manter a Serra da Capivara pode ser explicada pelo seu foco em manter os empregos dessas mulheres, chamadas carinhosamente de guariteiras. São elas que mantém o nível de qualidade na higiene, limpeza e no contato com os turistas do Brasil e do exterior. Uma delas já deu a vida pelo parque quando seu irmão desejava entrar para caçar no parque. Ele terminou matando a irmã na própria guarita. Um fato emblemático.

Manter o emprego dessas mulheres passou a ser a meta de vida de Niéde Guidon, pois ela sabe como é importante garantir essas conquistas. Para ela, o homem quando recebe seu salário quase sempre gasta com bebidas, jogos de azar ou em festas. Já as mulheres pensam na educação dos filhos, na melhoria da qualidade de vida da família, na poupança para dias incertos. Talvez o ICMBIO seja insensível para perceber essas nuances, a importância dessas mulheres na Serra da Capivara.

Amanhã, sexta-feira, dia 26 de agosto, vai acontecer uma grande mobilização na cidade de São Raimundo Nonato em defesa desses postos de trabalho, na permanência das guariteiras nas portarias do parque e na manutenção das conquistas sociais, econômicas e culturais que tem acontecido na região de São Raimundo Nonato nas últimas duas décadas. Por isso, quem puder participar, ajudar, se mobilizar, certamente estará dando sua contribuição por um Piauí mais justo e igualitário.

 

Por André Pessoa – Especial

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