
A recente iniciativa do presidente colombiano Gustavo Petro, ao declarar toda a Amazônia de seu país como área livre de mineração e exploração de petróleo, foi um movimento calculado — ambientalmente simbólico, politicamente estratégico e diplomaticamente ruidoso. Embora a Colômbia detenha apenas 7% da floresta amazônica, a medida ecoa forte no cenário internacional e coloca o Brasil, especialmente o governo Lula, sob novos holofotes.
A decisão foi anunciada durante um encontro ligado à COP 30, com a ministra interina Irene Vélez defendendo que a Amazônia “não conhece fronteiras” e pedindo que os países vizinhos adotem a mesma postura. Na prática, trata-se de uma tentativa de posicionar a Colômbia como líder moral do ambientalismo amazônico — um papel que, até pouco tempo atrás, Lula buscava ocupar.
O problema é que, ao mesmo tempo em que Petro reforça seu discurso climático, o Brasil caminha na direção oposta ao autorizar a Petrobras a avançar em perfurações exploratórias na Margem Equatorial, região sensível que envolve a foz do Rio Amazonas. Isso cria um contraste incômodo: a Colômbia de Petro proíbe totalmente o petróleo na Amazônia; o Brasil de Lula flexibiliza.
Esse desencontro se materializa em um constrangimento diplomático. Petro envia ao mundo a mensagem de que está disposto a sacrificar interesses econômicos em nome do clima — mesmo que, na prática, a Colômbia pouco perca com isso. Já Lula, que tem buscado o protagonismo climático internacional, agora precisa explicar por que a maior potência amazônica continua apostando em combustíveis fósseis na região.
É evidente que o debate não é simples. O Brasil tem uma economia muito mais dependente da cadeia energética e uma Petrobras muito mais estratégica do que qualquer equivalente colombiano. Além disso, a exploração na Margem Equatorial ainda está em estágio inicial. Mas, no campo simbólico e geopolítico, Petro saiu na frente.
Resta saber como o Brasil responderá a essa pressão crescente dentro da OTCA e no cenário internacional. A disputa pelo título de “guardião da Amazônia” está apenas começando — e, neste momento, Petro acaba de marcar um ponto importante, mesmo jogando com uma pequena parte da floresta.








