Amigos e pesquisadores lamentaram a morte da arqueóloga Niède Guidon, uma das mais importantes pesquisadoras da história do Brasil, que faleceu na madrugada desta quarta-feira (4), em São Raimundo Nonato e destacaram o seu legado. O guia turístico do Parque Nacional da Serra da Capivara, Valtercio Torres, afirmou que se descobriu como profissional através da pesquisadora.
“Hoje amanheceu triste. Estive ao lado dela durante 32 anos. Faço parte da primeira turma de guias do Parque. Vou levar para sempre suas lembranças e ensinamentos. Ela nunca será esquecida. Ela deu ao mundo e à humanidade esse patrimônio cultural que é a Serra da Capivara”, relatou.
A técnica de laboratório Elizangela Ferreira conviveu com a pesquisadora por 24 anos. Uma experiência que, segundo ela, transformou sua vida.
“Tive a honra de trabalhar diretamente com ela. Aprendi lições que levamos para a vida inteira. Aprendi, sobretudo, o valor e a força de ser mulher. E que, quando nos comprometemos de verdade, quando colocamos amor, coragem e responsabilidade naquilo que fazemos, os resultados sempre vêm — e vêm para transformar vidas, comunidades e gerações. Doutora Niède me ensinou que, por mais difíceis que sejam os desafios, é possível resistir, é possível lutar e que é preciso acreditar em nós mesmos. O que fica em mim é um profundo sentimento de gratidão, de honra e de orgulho”, relatou Elizangela.
A coordenadora dos Museus do Homem Americano e da Natureza, Rosa Trakalo, trabalhou quase 50 anos ao lado de Niède Guidon e relatou que este é um momento muito difícil. “Hoje é um dia difícil. Foram muitos anos ao lado dela. Fica até difícil dizer algo”, relatou.
Em um post no Instagram, o arqueólogo e pesquisador Itelmar Negreiros — um dos vários arqueólogos que se inspiram em Niède Guidon — lamentou a perda da pesquisadora. Itelmar ressalta a importância de Niède Guidon nas pesquisas e na vida das pessoas.
“A doutora Niède foi minha primeira referência de pesquisadora, desde criança, era por causa dela que eu sonhava em ser “cientista”. Quando terminei minha graduação, ela escreveu uma carta de recomendação para que eu pudesse tentar o mestrado. Hoje, no doutorado, eu estudo o legado dela. Às vezes é dificil conceber o tamanho do impacto que ela teve na arqueologia. O legado que ela deixa não está só nos livros ou nos museus. Está na dignidade que ajudou a semear o sertão”, relatou o pesquisador ao Cidadeverde.com
A amiga e colaboradora próxima de Niède Guidon, Socorro Macedo, relembrou com emoção a convivência com a renomada arqueóloga e destacou o impacto humano e profissional deixado por ela.
“Ela era uma pessoa que estava sempre pronta a servir a quem precisasse. É um legado que ela deixa, e a gente vai, com certeza, sentir falta, mesmo diante de todo o trabalho que ela fez. Ela tem uma grande equipe, tem pessoas capacitadas para continuar esse trabalho, mas ela fazia a diferença.
Então, a gente só tem a lamentar essa partida. E eu posso falar com propriedade porque conheci quando ela chegou em São Raimundo Nonato. A gente não sabia nem o que ela estava fazendo aqui, e desde essa época eu tive o privilégio de começar a conhecê-la. E durante toda a sua trajetória foi criado um vínculo de amizade. E, além da gratidão pelo trabalho que ela fez no parque, eu pessoalmente tenho uma gratidão pelos ensinamentos que ela me passou, pelas oportunidades que ela me deu de trabalhar prestando serviços para a fundação e para o parque”, contou.