Essa é uma versão dos anos 2006 a 2013 do nosso sistema. Algumas versões mobiles podem não se adptar bem.

 

 
 

 
Publicado em 23/11/2008 - 16:35:35  

Tamanho da fonte:..

 

 

 
Os lugares da educação: As novas invasões bárbaras
 
.
 
 
Gênesis Naum de Farias

Poeta e Acadêmico da Faculdade de Arqueologia

Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF

Campus Serra da Capivara/PI

e-mail: cabarebruxelesco@yahoo.com.br




“... na guerra mundial por empregos, a alteridade e outras questões referentes à emancipação humana pelo trabalho e a desterritorialização, serão o algoz da socialdemocracia”.



Quando questões morais começam a exigir de uma sociedade mudanças, é porque as questões educacionais já não atendem às experiências vivenciadas da população diante das implicações de convivência coletiva presentes no processo de re-significação do espaço urbano, atendendo a questões de segurança, saúde, habitação e a qualidade de vida.

Questões ligadas a essas implicações de convívio são discutidas pela professora Ana Lílian dos Reis em sua dissertação de mestrado intitulada: Questões Educativas e Outras Questões no Processo de Re-estruturação Urbana: o caso do Camelódromo Dois de Julho em Juazeiro – Bahia.

A Professora começa a discussão cruzando informações diversas sobre o contexto da cidade em estudo para observar as implicações para o campo da educação, presentes nas ações públicas através da manutenção oficial da ordem social, com vistas para re-elaborar os vínculos que esta possui com o desenvolvimento da mentalidade histórica no privilegiado espaço das aprendizagens, na sociedade ribeirinha.
O texto em análise atenta-se para um fato motivador de reflexões: de que forma o planejamento urbano pode atender as necessidades do homem moderno frente aos vários lugares da educação?

A pesquisa é fruto de um estudo de caso etnográfico, o qual os organismos simbólicos do cotidiano requerem para si a re-elaboração dialógica de outros olhares para este mesmo cotidiano.

Fica claro e evidenciado pela filiação epistemológica da pesquisa que a sustentabilidade do caos a cada dia torna-se muito expressivo porque o próprio homem não consegue dar conta do volume de problemas, causados pelas demandas estruturais do avanço tecnológico.

Resume-se a isso, o fato de que o planejamento da ordem, na desordem, tende a fechar janelas e abrir a circularidade informal das situações não esperadas.

Mesmo com um volume maior de instrumentos metodológicos, a pesquisa em análise tenta entender esse lugar da educação com o esmero da pluralidade como forma de dar conta de explicar a identidade territorial do produto maior da existência: a sobrevivência.

Essa é a forma de apresentar a alteridade como algo em constante desordem ao tempo em que é privilegiado por uma contra-ordem sem um formato identitário.

No geral, a pesquisadora mostra o lugar da educação como um campo de saberes minado pela formalização de um discurso referendado pela maestria funcional das equivalências sócio-distributivas.

A sustentabilidade desse discurso racional é criado para legitimar o pragmatismo de uma mentalidade da modernidade que nunca apreciará a equidade como algo a ser levado em conta quando a ordem das coisas quer mudar os fatos históricos, e a contemporaneidade se revolve com seu maior problema: perceber que não há lugar para o que não é comum.

Não há lugar para o ócio e o planejamento urbano oficializa a “limpeza étnica”, contrariando o curso da emancipação humana. O ócio aqui se apresenta como o lugar da criatividade, da inventividade, do sonho, do prazer e da possibilidade de sustentabilidade social.

Os problemas desse discurso seguem a ordem do enquadramento e contextualiza qualquer norma de generalização, mesmo quando o objeto de pesquisa reflete o simples ato de criar espaços de sustentabilidade na urbana e caótica cidade analisada; marcada pelas incertezas transitórias desses espaços.

Mesmo que o caso do Camelódromo Dois de Julho tenha sido pensado para ocupar esse objeto, fica claro o interesse do enquadramento estético como elemento político de higiene sustentável.

A educação como ação formativa fica sem forças para se contrapor aos interesses do poder público, visto que é propagandeado uma outra forma de saberes para engessar a noção de caoticidade. Essa caoticidade é provida pelo inchaço urbano, tendendo para desumanizar a ordem dos fatores. Portanto, às variáveis recolhidas pela pesquisa nos seus aspectos estruturais, observa os vários lugares da educação como sendo, o lugar de uma nova ordem.

Com isto, é observável que os movimentos do capital tendem a requerer do planejamento urbano a contensão das manifestações, patologicamente desenvolvido pelas crises financeiras que marcam os mercados. E os ventos globais querem isso, uma “invasão bárbara” em três dimensões: dimensão financeira, dimensão cultural e a dimensão social.

A pesquisa mostra que “a educação informal seria definida como ‘uma zona de atuação social onde a pedagogia é cega’, onde não acontece o previsto pela pedagogia. É o lugar do não sistêmico da educação ou ‘daquilo em que a pedagogia não descobriu ainda em sua possível sistematicidade’”.

O trabalho científico mostra ainda que “o que está posto como desafio é entender que as pessoas se formam nestas muitas e variadas instâncias. Isto é importante, inclusive, porque se assim o é, não podemos simplesmente sair prometendo formar a cidadania apenas em sala de aula”. (Reis, 2003, p.33).

Enfim, as flutuações importantes para a zona de atuação política do capital querem mesmo é obstruir os fenômenos das aprendizagens construídas para gerir da informalidade o discurso da sustentabilidade.

Além disso, a dimensão histórica fortalece a descontinuidade para conter os distúrbios morais alastrados pelo capital como força de mercado, violentada pelas inundações cambiais.

O ritmo das dimensões propostas expande os sentidos empreendidos pela formação e organização das cidades, como um campo educativo privilegiado, onde a barganha cultural fica refém da complexa rede de mercado para se tornar um centro comercial que em nada se aproveita os anseios dos cidadãos.

A autora sentencia; “poderíamos até arriscar que quanto pior a cidade, pior o cidadão – embora isso possa parecer muito restritivo. Mas, vamos por partes, apresentando elementos que tornam a cidade uma ‘maquinaria’ que efetivamente forma e deforma”. (Reis, 2003, p.33).

Os sinais dessa nova ordem social são transmitidos como matéria-prima para o entendimento que edifica a educação de uma cidade nos espaços de convivência coletiva, como se apresenta em questão, a re-estruturação urbana de Juazeiro da Bahia através da construção do Camelódromo Dois de Julho, para dissolver a vulnerabilidade estética das ruas tomadas pelo comercio informal, “permitindo” a redução dos transtornos causados pela falta de postos de trabalho -; causa também da elevada concentração de capital nas mãos de poucos.

Por outro lado, a valorização do real, embora registre um embrutecimento crescente, tende a fortalecer a compreensão das subjetividades humanas, fazendo crer que a ameaça do “sujo” e do “pouco higiênico” camelô nas ruas, informa que a produção de saberes é a matéria de uma aprendizagem auto-suficiente que produz a identidade de um lugar, transmitindo a terrível ameaça do presente quando se refaz a importante reflexão do hipertexto, como metáfora de significação para a compreensão cognitiva dos movimentos de singularização dessa maquina de subjetivação chamada convívio coletivo.

A cidade de Juazeiro é o cenário desta pesquisa, surgindo historicamente como o entreposto funcional fortemente apreciado pelo crescimento populacional, e, com ele, demandas sociais inflacionarias e, supostamente, a presente análise quer ampliar o lugar da educação apontando-o para uma versão moderna das invasões bárbaras, amplamente estudadas pelos historiadores como sendo o período em que grandes deslocamentos de massas humanas marcaram a transitória Idade Média.

O deslocamento dos camelôs das ruas de Juazeiro para o espaço comercial, edificado pelo poder público, conhecido como “Camelódromo” reforça a singularidade das invasões bárbaras, no momento em que o choque estético produz as significações do jogo político para tentar esconder os “bárbaros”, destituídos do seu lugar na informalidade, sendo próprio de suas atividades laborais para suster o próprio desenvolvimento econômico, moral e cultural.

Uma coisa é certa, o processo de re-estruturação urbana de uma cidade do porte de Juazeiro da Bahia passa pelas questões educacionais nos seus mais diversos territórios, mesmo que estes estejam condenados ao fracasso pela falta de interesse político, às vezes, do próprio cidadão, de educadores, de gestores públicos, enfim, da sociedade como um todo; mas o fato é que diante da guerra mundial por empregos, a alteridade e outras questões referentes a emancipação humana pelo trabalho, e a desterritorialização, serão o algoz da socialdemocracia.


Referências Bibliográficas:

BARBOSA, Lívia. Igualdade e Meritocracia: A ética do desempenho nas sociedades modernas. Rio de Janeiro/RJ: Fundação Getulio Vargas, 1999.

BAUMAN, Zygmunt, 1925 – Modernidade liquida; tradução Plínio Dentzian. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e Simulações. São Paulo: Forense, 1979.

BOBBIO, Norberto. Igualdade e Liberdade. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996.

BOFF, Leonardo. Virtudes para um outro mundo possível, Vol. Hospitalidade-direito e dever de todos. Petrópolis: 2005.

BOGDAN, Roberto C. e BIKLEN, Sari Knopp. Investigação Qualitativa em Educação. Porto Editora, 1994.

CARPEGGIANI, Schneider. O filósofo da hiper-realidade. Jornal do Commercio, recife, 8 Mar. 2007. Cap. C, p.1.

DELORS, Jacques. Educação um tesouro a descobrir: relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo: Cortez; Brasília: MEC; UNESCO, 1998.

DEMO, Pedro. Metodologia Científica em Ciências Sócias. São Paulo: Atlas, 1995.

______. Pesquisa: Principio científico e educativo. São Paulo: Cortez, 2000.

______. Qualidade da Educação: Uma tentativa de definir conceitos e critérios de avaliação. São Paulo. São Paulo: Cortez, 2000.

EDITORIAL, Compromisso Social. Jornal do Commercio, Recife, 2007. Opinião: p. 2.

FERRETTI, Celso João, JUNIOR, João dos Reis e OLIVEIRA, Maria Rita N. Sales. Trabalho Formação e Currículo. São Paulo: Xamã, 1999.

FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro: Teoria e pratica da educação física. São Paulo: Editora Scipione LTDA, ed.1991.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro; Paz e Terra, 1979.

______. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GENTILLI, P. A. Educar para o desemprego: A desintegração da promessa integradora. Petrópolis: Vozes, 1998.

GENTILLI, P. A. Pedagogia da Exclusão: Crítica ao neoliberalismo em educação. Petrópolis: Vozes, 1995.

___________. A falsificação do consenso: simulacro e imposição na reforma educacional do neoliberalismo. Petrópolis: Vozes, 2001.

GENTILLI, Pablo A. A. e SILVA, Tomaz Tadeu da. Neoliberalismo, Qualidade Total e Educação. Petrópolis, 1994.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva, Guaraciara Lopes Louro. Ed.Rio de Janeiro: DP & A, 2005.

HARVEY, Daerd. Condição Pós-moderna. Edições Layola, São Paulo, 2006.

KRUPPA, Sonia M. Portella. Sociologia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994. (Coleção Magistério 2º Grau; Serie formação do professor).

LIBÂNEO, J. C. Democratização da escola pública: A pedagogia crítica-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1985.

MELLO, G.N. Cidadania e Competitividade: desafios educacionais do terceiro milênio. São Paulo: Cortez, 1988.

NAMO, Guiomar (e outros). Educação e Transição Democrática. São Paulo: Cortez e Autores Associados, 1986. (Coleção Polêmicos do Nosso Tempo, 16) Vários Colaboradores.

MOREIRA, Antonio Flavio Barbosa e SILVA, Tomaz Tadeu da. Currículo, Cultura e Sociedade. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2005.

MORIN, Edgar. Os Sete saberes necessários à Educação do Futuro. – 3 ed. – São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001.

MOURA, Francisco Graça de. Ação Social, Voluntariado e Participação Comunitária. Goiânia: Gráfica e Editora Três Poderes LTDA, 1º ed. em junho de 1991.

OSMON, Haward A. fundamentos filosóficos da educação; - 6ª ed. – Porto Alegre: Artemed, 2004.

PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento Dialógico: Como construir o projeto político-pedagógico da escola. São Paulo: Cortez, 2005.

PERRENOUD, Phillippe. A prática reflexiva no ofício do professor: profissionalização e razão pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2002.

PONCE, Aníbal. Educação e Luta de Classes. Tradução de Jose Severo de Camargo Pereira. São Paulo: Cortez e Autores Associados, 1986. (Coleção educação Contemporânea).

REIS, Ana Lílian dos. Questões Educativas e Outras Questões no Processo de Re-estruturação Urbana – O Caso do Camelódromo Dois de Julho em Juazeiro – Bahia. Dissertação de Mestrado. Senhor do Bonfim – Bahia – Brasil. 2003.

SAVIANI, Demerval. Pedagogia Histórica - Critica Primeiras Aproximações: Polêmicos do nosso tempo. Campinas: Autores Associados, 1996.
.
.

.> Esta notícia foi vista 12392 vezes

Compartilhe:
..
Comente esta notícia      
 
 

 

 
 © Copyright - Desde 2006 | SaoRaimundo.com
 
 contato@saoraimundo.com